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OPINIÃO

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'Apito de cachorro' bolsonarista é a senha para ataques a jornalistas

Colunista do UOL

14/09/2022 19h35Atualizada em 14/09/2022 19h36

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A nova agressão sofrida pela jornalista Vera Magalhães, no final do debate dos candidatos ao governo paulista, na terça-feira, não foi apenas mais um episódio da violência político-eleitoral que se alastra pelo país.

É uma política de governo, desde antes da posse do capitão: atacar veículos e profissionais de imprensa, de preferência, jornalistas mulheres.

O desqualificado parlamentar bolsonarista que a atacou nos estúdios da TV Cultura atendeu ao "apito de cachorro" dos discursos presidenciais, linguagem em código que parece significar uma coisa para a população em geral, mas tem um significado mais específico e diferente para um subgrupo-alvo — no caso, os aliados e seguidores de Bolsonaro.

"Apito de cachorro" é a tradução literal do inglês "dog whistle politics". As suas frequências se situam acima da capacidade de audição humana, mas podem ser ouvidas pelos cães. E isso não é uma força de expressão, com todo respeito aos vira-latas desta campanha eleitoral.

Afinal, foi em recente debate presidencial que o próprio capitão Bolsonaro ofendeu a mesma jornalista da TV Cultura, e até hoje não lhe pediu desculpas. A partir daí, Vera Magalhães recebeu milhares de ameaças a ela e à sua família, emitidas pelos cachorros loucos da matilha digital bolsonarista.

Ainda hoje, em discurso para seguidores em Presidente Prudente (SP), após mais uma motociata, Bolsonaro deu mais um exemplo de como funciona sua voz de comando apenas para convertidos.

Num raciocínio tortuoso, defendeu a política armamentista do governo e pediu aos apoiadores que eles "esperem as eleições acabar" (sic), disse ser um "presidente que cada vez mais fala da legítima defesa" e "que não quer desarmar o seu povo, muito pelo contrário". Entenderam?

Como não tenho ouvidos caninos, só entendi que se trata de mais uma ameaça dirigida aos adversários. O "outro lado", que está no meio de uma guerra, lembrem-se, disse o presidente, em referência a Luiz Inácio Lula da Silva, "fala em desarmar o cidadão de bem".

'Cidadão de bem", como sabemos, são todos os que votam em Bolsonaro e batem palmas para tudo o que ele fala, gritando "Mito! Mito! Mito!".

Assim como há intérpretes de sinais, precisamos agora providenciar também um tradutor de "apitos de cachorro", a grande contribuição dada pelo bolsonarismo para a campanha eleitoral de 2022. Antes, nunca tinha ouvido falar nisso.

Um exemplo clássico foi o vídeo produzido por Roberto Alvim, quando exercia o cargo de Secretário Especial da Cultura do governo Bolsonaro, quando se utilizou do "apito de cachorro" ao se apresentar num cenário parecido ao do ministro da propaganda nazista Joseph Göbbels em seus discursos.

Alvim foi demitido, mas qualquer semelhança com os tempos que estamos vivendo não é mera coincidência.

Vera Magalhães que o diga.

Minha solidariedade a ela.

Vida que segue.