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OPINIÃO

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Por falta de votos, Bolsonaro e seu ministro ameaçam instituto de pesquisa

Imagem projetada em prédio da ONU, em Nova York, pela US Network for Democracy in Brazil (Rede Norte-Americana pela Democracia no Brasil) horas antes do discurso de Bolsonaro                              -  Divulgação
Imagem projetada em prédio da ONU, em Nova York, pela US Network for Democracy in Brazil (Rede Norte-Americana pela Democracia no Brasil) horas antes do discurso de Bolsonaro Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

20/09/2022 13h50

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Bolsonaro e seu ministro das Comunicações, Fabio Faria, o genro de Silvio Santos, finalmente descobriram o principal problema da fracassada campanha pela reeleição: a falta de votos.

Botaram a culpa nos institutos de pesquisa e resolveram cortar o mal pela raiz.

Quarenta e dois minutos antes da divulgação dos resultados da nova pesquisa do Ipec, na noite de segunda-feira, com Lula 16 pontos à frente de Bolsonaro e 52% dos votos válidos, apontando para uma vitória no primeiro turno, Faria foi ao Twitter para fazer o anúncio:

"TSE, anote esses números que o Ipec está dando, que no dia 2 de outubro a população vai cobrar o fechamento desse instituto. Chega desses absurdos com pesquisas eleitorais!!! A hora da verdade está chegando".

Poderá ser tarde demais para evitar a derrota porque neste dia os eleitores já estarão votando nas urnas eletrônicas, não haverá mais pesquisas.

Em Londres, no dia anterior, o presidente Bolsonaro já havia decretado que vencerá as eleições no primeiro turno, com 60% dos votos, baseado no que chama de "datapovo", e qualquer outro resultado só poderá acontecer se houver "alguma coisa errada" no TSE.

Hoje, em Nova York, antes de falar na ONU, perguntado sobre os resultados da nova pesquisa, o capitão desdenhou:

"Tenho sentido que o povo está com a gente. Todas as classes sociais. A aceitação é excepcional. Os caras participam de motociatas voluntárias, a população quer a continuidade do nosso governo. Essas pesquisas não valem nada!"

Pois se as pesquisas mostram exatamente o contrário, com Lula crescendo e Bolsonaro caindo em quase todos os recortes e segmentos, aumentando sua vantagem a cada nova rodada, danem-se elas. Só podem estar fraudadas porque o que importa é a convicção do presidente e seus ministros. É a mesma convicção do ex-juiz Sergio Moro ao condenar Lula sem provas.

Toda essa encenação na certeza da vitória, que já dura meses, contra todas as evidências, serve apenas para mobilizar a militância bolsonarista radicalizada, e preparar o clima para contestar o resultado, alegando fraudes nas urnas, em caso de se confirmar a derrota anunciada desde o início da campanha.

Aliás, essa derrota virá com quatro anos de atraso. Em 2018, Bolsonaro já vinha comendo poeira nas pesquisas, com metade das intenções de voto do ex-presidente, e só assumiu a liderança após a prisão de Lula pelo seu futuro ministro Sergio Moro.

Este ano, o petista liderou todas as pesquisas por larga margem, desde a primeira, oscilando sempre dentro da margem de erro na faixa dos 40%, enquanto Bolsonaro ficava na casa dos 30%. A vantagem de 16% (47 a 31), registrada neste último Ipec, é a maior até agora, após cinco rodadas do instituto. Daí o desespero de Faria e do seu chefe.

Nos cálculos do senador Renan Calheiros (MDB-AL), os números mostram que, neste momento, Lula está 25 milhões de votos à frente de Bolsonaro. Ou seja, para alcançar o inimigo (Bolsonaro não o trata como adversário), o presidente terá que conquistar 2,5 milhões de votos a cada 24 horas, pois a campanha termina dentro de 10 dias.

Depois de esvaziar os cofres do Tesouro Nacional para distribuir todo tipo de bondades ao eleitorado mais pobre e às mulheres, mantendo mais de 50% de rejeição, e chamar Lula de ladrão dia e noite, o que mais a campanha de Bolsonaro poderia oferecer para conquistar os votos que insistem em lhe faltar, segundo os malvados institutos de pesquisa?

Oferecer gasolina de grátis, liberar o saque aos supermercados, dolarizar o Auxílio Brasil, anistiar todas as dívidas de todos os brasileiros, como fez agora com as multas dos ruralistas punidos por crimes ambientais?

Se Bolsonaro imaginou que esta viagem de "estadista" ao enterro da rainha Elizabeth, onde deu o maior vexame de um presidente brasileiro no exterior em toda a nossa história, e à ONU, onde completou o serviço, poderia ser a sua "bala de prata" para reverter as pesquisas, enganou-se. Foi um tiro no pé. Vai voltar ao Brasil menor ainda do que saiu.

O funeral da rainha foi também o de Bolsonaro, que provou mais uma vez não ter a menor condição de ser presidente da República do Brasil, um acidente de percurso que não se repete, assim como um raio não cai duas vezes no mesmo lugar.

O erro dele, entre tantos outros, foi achar que o Brasil de 2022 é o mesmo de 2018.

O antibolsonarismo, depois de quatro anos de desmandos, colocando Bolsonaro a nu na sua mediocridade de tenente ejetado do Exército, mostrou-se maior do que o antipetismo lavajatista de 2018.

Graças a ele, Lula está perto de conquistar a maior vitória da sua longa caminhada política e pessoal de Garanhuns a Brasília, ganhando pela primeira vez a eleição no primeiro turno.

Como diz Fabio Faria, "a hora da verdade está chegando".

Vida que segue.