Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Se ele não quer mais ser presidente, por que não antecipar a posse de Lula?
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Sob o título "Longa espera", a coluna de Mônica Bergamo hoje na Folha traz um relato dramático sobre o estado de desânimo de Bolsonaro, depois de consumada a derrota na eleição, que só ele não esperava.
"Jair Bolsonaro (PL) se queixou a interlocutores que o visitaram do tempo que é preciso esperar para que o presidente eleito Lula (PT) tome posse em seu lugar", escreve a colunista na abertura da matéria.
Se é assim, se Bolsonaro simplesmente não aguenta mais ser presidente, para o bem geral da nação e dele mesmo, por que não reunir em sessão extraordinária o Congresso Nacional, onde o capitão ainda conta com ampla maioria, para aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) de emergência, antecipando o dia da posse de Lula, marcada para o longínquo dia 1º de janeiro de 2023? Já fizeram tantas PECs em seu governo, que uma a mais, uma a menos, não fará diferença, até porque Lula já é tratado aqui dentro e lá fora como presidente de fato.
Como é impossível que Bolsonaro tenha a grandeza de pedir o boné e renunciar, o Centrão poderia fazer mais esse favor a ele e abreviar seu sofrimento. Sem ter o que que fazer, recolhido com seus fantasmas naquela imensidão do Palácio da Alvorada, o ex-capitão não vê a hora de sair de lá e voltar para sua casa nas Vivendas da Barra, enquanto seus seguidores continuam clamando ajuda aos quartéis para impedir a posse de Lula e a permanência dele no poder por tempo indeterminado.
Vejam a situação descrita pela colega Mônica Bergamo:
"Para o atual presidente, a lei deveria mudar, e o novo governante deveria tomar posse logo depois de abertas as urnas. A longa espera, afirmou, é aflitiva". Nós que o digamos...
Com problemas de saúde (foi diagnosticado com erisipela na semana seguinte à eleição), abandonado pela maioria dos amigos, sem planos para viajar, Bolsonaro queixou-se que "já não tem mais poder algum e suas opiniões não têm relevância".
Nos tempos em que ainda tinha poder, ele já se queixava do fardo pesado de ser presidente da República e nunca se mostrou à vontade com a liturgia do cargo e a rotina no Palácio do Planalto.
O que não dá para entender é por que ele lutou tanto para ser presidente, trocando a boa vida de deputado do fundão do baixo clero, sem nenhuma responsabilidade, pelo ofício de comandar uma das maiores economias do mundo com 215 milhões de habitantes, sem nunca ter dirigido nem um carrinho de pipoca.
E mais: se sofria tanto, por que e para que dedicou boa parte do seu mandato à campanha pela reeleição? Para justificar esse enorme sacrifício, dizia que estava cumprindo uma missão divina, mas o mais provável é que queria mesmo era garantir o foro privilegiado por mais 4 anos, diante dos processos que se acumulam na Justiça.
Com o fim da campanha e o veredito implacável das urnas, que o reprovaram na tentativa de ganhar um novo mandato, de um dia para outro sua agenda ficou vazia, pois não fazia mais sentido cruzar o país toda semana para subir em palanques, fazer motociatas, visitar templos, quarteis e feiras agropecuárias, inaugurar trechos de obras, participar de marchas para Jesus e perorar contra inimigos reais ou imaginários.
É como se o tivessem tirado da tomada de 220 e o devolvido à dura vida na planície, sem ajudantes de ordens nem mordomias e cartões corporativos, ausente dos noticiários, ignorado pelos antigos e novos donos do poder.
Sem poder contar com o apoio dos chefes militares da ativa, por isso chamados de "comunistas" pelos seus devotos mais fiéis, perderam o sentido também, a cada dia que passa, os devaneios golpistas que até outro dia animavam seus discursos furiosos contra as urnas eletrônicas e a realidade dos fatos.
Ou será que ele ainda está esperando por algum milagre para voltar ao Planalto nos braços do povo?
Vida que segue.
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