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OPINIÃO

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Com governadores e prefeitos inexpressivos, que pobre federação é essa?

Tarcísio de Freitas, então candidato ao governo de São Paulo, ao lado de Bolsonaro na Marcha para Jesus 2022, em São Paulo - Reprodução/Redes sociais
Tarcísio de Freitas, então candidato ao governo de São Paulo, ao lado de Bolsonaro na Marcha para Jesus 2022, em São Paulo Imagem: Reprodução/Redes sociais

Colunista do UOL

10/06/2023 11h35

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No nome oficial, somos a República Federativa do Brasil, mas na prática a realidade não é bem essa.

Com uma safra de 27 governadores e 5.570 prefeitos inexpressivos, nenhum deles com expressão nacional, a tal federação concentra cada vez mais poderes em Brasília.

Os nomes deles raramente aparecem no noticiário político e, assim mesmo, só ganham algum espaço quando enfrentam desastres naturais (enchentes, incêndios florestais, grandes desastres rodoviários) em seus territórios.

Nem sempre foi assim. Em outros tempos, governadores e prefeitos de grandes capitais surgiam como candidatos naturais à Presidência da República.

Na Campanha das Diretas Já, o maior movimento popular da nossa historia, que está completando 40 anos, destacavam-se no comando dos palanques os governadores de São Paulo (Franco Montoro), Rio (Leonel Brizola) e Minas (Tancredo Neves), ao lado de Ulysses Guimarães e Lula, o único daquela safra de líderes nacionais que restou em atividade.

Hoje, se houvesse um movimento semelhante, que governador ou prefeito seria capaz de levar multidões às ruas em defesa da democracia e do voto direto para presidente da República?

Governadores só costumam se reunir para debater temas nacionais quando convidados pelo presidente da República e são raros os brasileiros capazes de declamar os nomes deles.

Prefeitos organizam aquela marcha anual a Brasília, mas são todos ilustres anônimos, sem lideranças expressivas, com pouca força para pressionar o governo central em suas demandas.

Em São Paulo, até hoje a maioria da população não sabe sequer dizer o nome do prefeito, Ricardo Nunes, o vice que assumiu há quase três anos com a morte de Bruno Covas, e está em plena campanha pela reeleição.

Também não sabemos ainda o que o carioca Tarcísio de Freitas, eleito em outubro pelo bolsonarismo, pretende fazer de São Paulo, que já foi chamado de "locomotiva do Brasil", o maior estado da federação em número de eleitores e grande potencial econômico, hoje com reduzida influência política cenário nacional.

Esta semana, para cavar um espaço na imprensa, o que mais se falou de Tarcísio foi a mudança no cardápio do restaurante do Palácio dos Bandeirantes, passando a tradicional feijoada paulista das quartas-feiras, para as sextas, como é no Rio.

Desde o mato-grossense Jânio Quadros, o breve, nos anos 60 do século passado, São Paulo não apresenta um candidato competitivo nas eleições presidenciais (o último, João Doria, desistiu da candidatura logo no início da campanha de 2022).

Também não é diferente o cenário nos outros dois grandes colégios eleitorais do país. No Rio, Claudio Castro, ex-vereador e cantor gospel, que assumiu no lugar do cassado juiz Wilson Witzel, reelegeu-se em outubro, mas não apita nada fora das suas fronteiras. O mesmo acontece nas Minas Gerais de Romeu Zema, que só vira notícia quando fala besteira, ultimo remanescente do precocemente envelhecido Partido Novo.

Líderes sem povo, estrutura partidária nem militância, os bolsonaristas Freitas, Castro e Zema são governadores que se resumem a tocar o expediente, não têm uma vida política própria, nem projetos para o país, embora seus nomes sejam cogitados para 2026 caso seu líder se torne inelegível.

Se olharmos para outras regiões, a fragilidade das novas lideranças é a mesma. Eleitos e reeleitos em seus estados, todos do nordeste, três ex-governadores, hoje ministros de Lula, despontam no campo da esquerda: Flávio Dino (Maranhão), Rui Costa (Bahia) e Camilo Santana (Ceará) como possíveis nomes para a sucessão presidencial, mas ainda longe de ter uma expressão nacional.

Quem mais? No Rio Grande do Sul, temos o tucano Eduardo Leite, reeleito governador, depois de se lançar a presidente, que assumiu a presidência nacional do que restou do PSDB de Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, mas continua não passando de um líder regional.

Entre os mais de 5 mil prefeitos, o único nome que me ocorre é o de Eduardo Paes, do Rio, assim mesmo porque é um veterano já em terceiro mandato.

República Federativa do Brasil é um belo nome, mas por enquanto expressa apenas um desejo. Falta muito para sermos uma federação de verdade para descentralizar o poder cada vez mais concentrado em Brasília.

Quem sabe, a prometida e sempre adiada reforma tributária possa ajudar nisso também, abrindo caminho para o surgimento de novas lideranças capazes de fortalecer de verdade a federação brasileira.

Vida que segue.

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