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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Lula não alcança consenso e PT e PSB se separam em 3 estados do Nordeste

O senador Veneziano do Rêgo (MDB-PB), o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PT) em evento de pré-campanha em Campina Grande (PB) - Ricardo Stuckert
O senador Veneziano do Rêgo (MDB-PB), o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PT) em evento de pré-campanha em Campina Grande (PB) Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

03/08/2022 04h00Atualizada em 03/08/2022 10h41

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Fiel aliado do PT na disputa presidencial, com o ex-governador Geraldo Alckmin de vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, o PSB está do lado opositor em três das nove eleições para governos estaduais no Nordeste em 2022. No Ceará, na Paraíba e em Alagoas, o PT se coligou com o MDB ou optou por lançar candidato próprio (caso cearense). Todos esses atos eleitorais tiveram direito à presença de Lula.

O ex-presidente petista esteve ontem em Campina Grande (PB) para cravar a última das divergências entre os dois partidos.

Na Paraíba, ele participou de ato de campanha de Veneziano Vital (MDB). O atual governador João Azevêdo (PSB) tenta a reeleição e apoia Lula publicamente, mas perdeu a disputa pelo apoio do PT para o arquirrival.

O motivo, no caso, é regional. O maior aliado de Lula no estado é o ex-governador e pré-candidato ao Senado Ricardo Coutinho (PT), que é desafeto de Azevêdo.

Em 2018, Coutinho foi o maior cabo eleitoral de Azevêdo, quando ambos ainda estavam no PSB. A campanha foi vitoriosa ainda no primeiro turno. Mas os dois romperam relações menos de um ano depois da posse.

A saída foi marcada por muitas trocas de farpas. Em carta publicada em dezembro de 2019, Azevêdo disse que tinha "exercido os limites da paciência" com o PSB. Após uma série de renúncias e críticas de membros ligados a Coutinho, houve uma intervenção nacional no diretório estadual, que levou à destituição do então presidente socialista local, Edvaldo Rosas (ligado a Azevêdo), seguida de nova eleição ao comando.

À época liderado por Coutinho, o PSB chegou a pedir desculpas ao povo paraibano pela eleição de Azevêdo, a quem Coutinho chamou de traidor e comparou com o estilo de Jair Bolsonaro.

O tempo passou, e nada como o tempo na política. Com a ida de Coutinho ao PT, Azevêdo voltou ao partido em fevereiro deste ano, numa tentativa de se aproximar de Lula.

Mas perdeu a disputa no estado e vai à reeleição com o "fogo amigo" e apoio apenas de Alckmin.

A volta de Azevêdo ao PSB, por sinal, acabou se tornando um obstáculo para que PT e PSB avançassem na ideia de formar uma federação, já que a convivência entre Coutinho e o governador é considerada inviável.

Veneziano  - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
O senador Veneziano do Rêgo (MDB-PB) e o ex-presidente Lula (PT) em evento de pré-campanha em Campina Grande (PB)
Imagem: Ricardo Stuckert

Em Alagoas, PSB é contra Calheiros e alinhado à direita

Em Alagoas, o imbróglio tem relação direta com o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (o JHC, do PSB), que comanda o partido no estado desde 2016. Nesse ano, o PSB estava contra o PT e apoiava o impeachment de Dilma Rousseff, após o apoio dado a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014.

JHC é conhecido por não defender ideologias de esquerda ou de direita, se definindo como "independente". Mesmo com a reaproximação do partido a Lula e ao PT, ele continuou no comando do partido, sem nunca ter declarado apoio ou voto no ex-presidente.

Em 2020, foi eleito prefeito em um segundo turno contra Alfredo Gaspar, que era o candidato do MDB, apoiado pela família Calheiros na capital alagoana.

Opositor ferrenho dos Calheiros, JHC inclinou o partido mais à direita e vai apoiar o senador Rodrigo Cunha (União Brasil) na disputa ao governo do estado. O nome tem apoio direto de Arthur Lira (PP), presidente da Câmara e fiel aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na Câmara de Maceió, o PSB adotou nos últimos anos uma linha ideológica de defesa a Bolsonaro, inclusive encampando dar o título de cidadão ao presidente.

O vereador Fábio Costa teve sua expulsão pedida por instâncias do PSB, após defender a censura e "denunciar" o discurso de uma colega (a vereadora Teca Nelma, do PSD) contra Bolsonaro.

Paulo - Ricardo Stuckert - Ricardo Stuckert
17.06.22 - O ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSB), o governador alagoano Paulo Dantas (MDB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador alagoano Renan Filho (MDB) em evento da pré-campanha em Maceió
Imagem: Ricardo Stuckert

No Ceará, PSB está com os Ferreira Gomes

Outro racha está no Ceará. O PT rompeu a aliança com o PDT após Roberto Cláudio ser escolhido para disputar o governo do estado. Já o PSB decidiu não migrar para a candidatura de Elmano de Freitas (PT) e apoia os trabalhistas.

Por muitos anos, o PSB abrigou os irmãos Cid e Ciro Ferreira Gomes. Cid, inclusive, foi eleito governador duas vezes pela legenda (em 2006 e em 2010).

O rompimento da família com o partido ocorreu em 2013, quando abandonou o governo de Dilma Rousseff para apoiar a candidatura de Eduardo Campos (morto em agosto de 2014). Os Ferreira Gomes foram para o Pros, onde ficaram até 2015, quando migraram para o PDT.

Apesar do apoio na disputa pelo governo ao PDT, o diretório do PSB manteve o apoio para a chapa Lula-Alckmin em âmbito nacional.

Roberto - Reprodução/Twitter/@cirogomes - Reprodução/Twitter/@cirogomes
Convenção estadual do PDT oficializou a candidatura de Roberto Cláudio (de camisa branca) ao governo do Ceará e teve a presença do presidenciável Ciro Gomes
Imagem: Reprodução/Twitter/@cirogomes

Mais ruídos

Lula tem enfrentado algumas situações de tensão pelos estados do Nordeste por conta dos apoios a candidatos do PSB. Em Pernambuco, nem mesmo a presença do ex-presidente evitou vaias ao candidato Danilo Cabral (PSB).

Parte da militância do PT e aliados apoiam Marília Arraes (SD), que lidera a corrida para o governo em todas as pesquisas feitas até aqui. Ela era do PT até março, quando deixou o partido para se candidatar pelo Solidariedade. O partido, presidido por Paulinho da Força, apoia Lula em nível nacional.

No Maranhão, a candidatura à reeleição de Carlos Brandão (PSB) também encontrou resistência, mas apenas de um pequeno grupo do partido, que apoia Weverton (PDT).

A resistência a Brandão vem de seu histórico em partidos de direita. Neste ano, ele deixou o PSDB e se filiou ao PSB para concorrer com o apoio de Flávio Dino. Mas também já passou pelo Republicanos, base do governo Bolsonaro, entre 2017 e 2021.

Já em Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí, o PSB está firme na coligação do PT, apoiando os nomes petistas ao governo, sem maiores rusgas —ao menos públicas.