Cidade de veraneio no RS vira abrigo de vítimas: 'Se pudesse, não voltaria'
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A cidade de Arroio do Sal, no litoral gaúcho, virou um refúgio para pessoas que estão desabrigadas nos municípios afetados pelas chuvas. Traumatizadas, muitas famílias temem voltar para suas casas após o nível da água baixar.
Segundo a gestão municipal, 1.089 pessoas informaram que se abrigaram na cidade até sexta-feira (17). A maioria vem dos municípios de Eldorado do Sul e Canoas. Dessas pessoas, 29 não conseguiram casa e estão em abrigos públicos.
O município tem uma peculiaridade: três quartos das residências ficam fechadas a maior parte do tempo. Conhecida como "segunda casa dos gaúchos", a cidade tem 12 mil moradores e é um destino tradicional de veraneio.
Segundo o Censo 2022 do IBGE, 75,4% dos domicílios de Arroio do Sal são desocupados ou ocupados ocasionalmente, o maior percentual do país.
Como a cidade não foi afetada pelas chuvas, muitas famílias de outras cidades do Rio Grande do Sul estão indo a suas casas no município ou procurando amigos e parentes que têm propriedades em Arroio do Sal para ficarem alojadas até a água baixar.
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'Se pudéssemos, não voltaríamos'
A professora e psicopedagoga Gisele Böhm conta que ela, quatro adultos e duas crianças que moram em Canoas estão hospedadas na casa de veraneio da mãe em Arroio do Sal. "Vínhamos para essa casa só no verão e em alguns feriados", conta.
Moradores do bairro Mathias Velho, eles tiveram cinco casas alagadas pela subida de nível do Guaíba e se mudaram para a cidade no dia 7 de maio. Não há previsão para que retornem, já que a casa onde moram seguia submersa.
"A água baixou um pouco, mas depois voltou a subir. Não temos ideia de quando poderemos retornar", relata.
![Bairro onde mora Gisele a familiares seguia alagada na sexta (17) Bairro onde mora Gisele a familiares seguia alagada na sexta (17)](https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/9a/2024/05/17/bairro-onde-mora-gisele-a-familiares-seguia-alagoano-na-sexta-17-1715964084158_v2_750x421.jpg)
Além da família materna, ela cita que, por parte de pai, são mais quatro casas que também foram alagadas. A professora explica que saiu antes da água chegar a sua casa, mas seu marido esperou mais.
Eu saí na sexta-feira, dia 2, à noite. Fomos para a casa da minha prima em Gravataí. Neste dia, a água ainda não havia subido nas nossas ruas, mas o dique já estava transbordando. Meu esposo ficou em casa com a família de nossos compadres, que moram próximo. Pensávamos que a água não iria chegar ali.
Gisele Böhm
Em Arroio, ela conta que a família foi até o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), onde recebeu roupas e produtos de limpeza. Eles também foram vacinados. "Uma vizinha nos doou um colchão, e outro vizinho deu uma cama. Fomos muito bem acolhidos", diz.
Se pudéssemos não voltaríamos. Temos medo que novamente nossas casas sejam atingidas enquanto não arrumarem o dique. Vamos voltar eu, minha prima e minha tia primeiro para limpar e organizar as casas. Minha mãe vai ficar com minha vó e as crianças morando por um tempo.
Gisele Böhm
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Quero receberCampanha e ajuda
Para ajudar moradores, a prefeitura lançou campanha para arrecadar donativos. Muitos moradores e empresários locais também se disponibilizaram a ajudar e estão distribuindo alimentos, roupas e colchões.
No primeiro domingo após a tragédia, um voluntário cedeu o espaço para montarmos um abrigo, mas as ordens públicas não nos permitiram seguir. Então continuamos com as doações de roupas, alimentos etc. Também estamos mandando marmitas para a região de Canoas e tínhamos voluntários para resgate na região.
Paloma Tomasi Ferreira, lojista e voluntária em Arroio do Sal
A prefeitura pede que todas as pessoas que estão na cidade façam cadastro para que tenham acesso à assistência, como atendimentos de saúde ou receber alimentação. Além disso, mapear é importante para saber a necessidade de implantação de mais serviços a quem está na cidade.
Até a sexta-feira (17), das 590 famílias cadastradas, 224 pediram para ter acesso a alimentos.
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