Conteúdo publicado há 1 mês
Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

Cidade de veraneio no RS vira abrigo de vítimas: 'Se pudesse, não voltaria'

A cidade de Arroio do Sal, no litoral gaúcho, virou um refúgio para pessoas que estão desabrigadas nos municípios afetados pelas chuvas. Traumatizadas, muitas famílias temem voltar para suas casas após o nível da água baixar.

Segundo a gestão municipal, 1.089 pessoas informaram que se abrigaram na cidade até sexta-feira (17). A maioria vem dos municípios de Eldorado do Sul e Canoas. Dessas pessoas, 29 não conseguiram casa e estão em abrigos públicos.

O município tem uma peculiaridade: três quartos das residências ficam fechadas a maior parte do tempo. Conhecida como "segunda casa dos gaúchos", a cidade tem 12 mil moradores e é um destino tradicional de veraneio.

Segundo o Censo 2022 do IBGE, 75,4% dos domicílios de Arroio do Sal são desocupados ou ocupados ocasionalmente, o maior percentual do país.

Como a cidade não foi afetada pelas chuvas, muitas famílias de outras cidades do Rio Grande do Sul estão indo a suas casas no município ou procurando amigos e parentes que têm propriedades em Arroio do Sal para ficarem alojadas até a água baixar.

Arroio do Sol lidera ranking das cidades com mais residências desocupadas do que ocupadas
Arroio do Sol lidera ranking das cidades com mais residências desocupadas do que ocupadas Imagem: Divulgação/Prefeitura

'Se pudéssemos, não voltaríamos'

A professora e psicopedagoga Gisele Böhm conta que ela, quatro adultos e duas crianças que moram em Canoas estão hospedadas na casa de veraneio da mãe em Arroio do Sal. "Vínhamos para essa casa só no verão e em alguns feriados", conta.

Moradores do bairro Mathias Velho, eles tiveram cinco casas alagadas pela subida de nível do Guaíba e se mudaram para a cidade no dia 7 de maio. Não há previsão para que retornem, já que a casa onde moram seguia submersa.

Continua após a publicidade

"A água baixou um pouco, mas depois voltou a subir. Não temos ideia de quando poderemos retornar", relata.

Bairro onde mora Gisele a familiares seguia alagada na sexta (17)
Bairro onde mora Gisele a familiares seguia alagada na sexta (17) Imagem: Arquivo pessoal

Além da família materna, ela cita que, por parte de pai, são mais quatro casas que também foram alagadas. A professora explica que saiu antes da água chegar a sua casa, mas seu marido esperou mais.

Eu saí na sexta-feira, dia 2, à noite. Fomos para a casa da minha prima em Gravataí. Neste dia, a água ainda não havia subido nas nossas ruas, mas o dique já estava transbordando. Meu esposo ficou em casa com a família de nossos compadres, que moram próximo. Pensávamos que a água não iria chegar ali.
Gisele Böhm

Em Arroio, ela conta que a família foi até o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), onde recebeu roupas e produtos de limpeza. Eles também foram vacinados. "Uma vizinha nos doou um colchão, e outro vizinho deu uma cama. Fomos muito bem acolhidos", diz.

Se pudéssemos não voltaríamos. Temos medo que novamente nossas casas sejam atingidas enquanto não arrumarem o dique. Vamos voltar eu, minha prima e minha tia primeiro para limpar e organizar as casas. Minha mãe vai ficar com minha vó e as crianças morando por um tempo.
Gisele Böhm

Continua após a publicidade

Campanha e ajuda

Para ajudar moradores, a prefeitura lançou campanha para arrecadar donativos. Muitos moradores e empresários locais também se disponibilizaram a ajudar e estão distribuindo alimentos, roupas e colchões.

No primeiro domingo após a tragédia, um voluntário cedeu o espaço para montarmos um abrigo, mas as ordens públicas não nos permitiram seguir. Então continuamos com as doações de roupas, alimentos etc. Também estamos mandando marmitas para a região de Canoas e tínhamos voluntários para resgate na região.
Paloma Tomasi Ferreira, lojista e voluntária em Arroio do Sal

A prefeitura pede que todas as pessoas que estão na cidade façam cadastro para que tenham acesso à assistência, como atendimentos de saúde ou receber alimentação. Além disso, mapear é importante para saber a necessidade de implantação de mais serviços a quem está na cidade.

Continua após a publicidade

Até a sexta-feira (17), das 590 famílias cadastradas, 224 pediram para ter acesso a alimentos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes