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De azarão a 1ª governadora: como Raquel uniu bolsonaristas e lulistas em PE
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A governadora eleita de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), conseguiu um feito que, desde 2014, não ocorria na região: vencer a eleição em um estado do Nordeste sem declarar apoio ou voto ao candidato à Presidência petista.
Tratada como "azarão" por alguns no início por conta dos poucos apoios que conseguira para se lançar e sem um nome à Presidência para chamar de seu, a ex-prefeita de Caruaru foi crescendo nas pesquisas e, no mês de setembro, passou a figurar sempre na segunda colocação, atrás de Marília Arraes (Solidariedade), com quem disputou —e venceu— o segundo turno.
No caso, a última vitória em situação parecida na região havia ocorrido em 2014 com Flávio Dino (à época no PCdoB), que venceu ainda no primeiro turno no Maranhão.
Na ocasião, o PT com Lula e Dilma Rousseff decidiram apoiar Edison Lobão Filho (PMDB) ao governo. Curioso foi que Dino, já eleito, declarou voto a Dilma no segundo turno, mesmo tendo recebido a visita e o apoio do então candidato Aécio Neves no primeiro turno.
Em 2018, o PT e seus aliados triunfaram em todos os nove estados da região, algo inédito.
Neste ano, em Sergipe, Lula não conseguiu eleger o seu candidato Rogério Carvalho (PT), mas acabou ficando tudo em casa: o vencedor Fábio Mitidieri (PSD) apoiou e declarou voto no ex-presidente desde o início da campanha.
Já em Pernambuco houve algo diferente: Raquel se manteve neutra e conseguiu dividir o seu palanque no segundo turno entre aliados dos dois candidatos à Presidência, por isso decidiu ficar sem abrir seu palanque a Lula ou a Bolsonaro.
O discurso era sempre o mesmo: de unir Pernambuco. "Onde se vê bolsonaristas e lulistas, eu vejo pernambucanos", afirmou.
O feito de Raquel foi duplo: para vencer, ela derrotou dois candidatos apoiados por Lula: Danilo Cabral (PSB), no primeiro turno; e Marília Arraes (Solidariedade), no segundo.
Ponte e maneiras de se aproximar de Lula
Nesta segunda-feira, Raquel deu entrevistas a veículos de imprensa de Pernambuco e, mesmo eleita, não quis dizer em quem votou para presidente. "Pernambuco e o Brasil escolheram Lula, e a gente vai trabalhar para construir pontes com o governo federal", disse.
Ela disse que ainda não conversou com o presidente eleito, mas fará isso em breve. Afirmou que não haverá qualquer dificuldade.
"Muitos que estiveram no nosso lado estavam com o presidente Lula, como a Simone Tebet, o Túlio Gadelha; e agora a senadora Tereza Leitão eleita já se colocou à disposição para ajudar a fazer esse diálogo", disse em entrevista ao programa Bom Dia Pernambuco, da TV Globo Nordeste.
Apesar de não declarar voto, durante a campanha, ela chegou a ser perguntada em uma entrevista em emissora de rádio se confirmava a declaração de seu pai, o ex-governador João Lyra Neto, de que não votaria em Bolsonaro. "Confirmo", disse.
Em muitos momentos, ela foi crítica ao presidente, como quando comentou a declaração de que "pintou o clima" com as venezuelanas, que chamou de "fala irresponsável".
Raquel se classifica como social-democrata (um corrente ideológica de esquerda) e costuma dizer em suas falas que defende que o governo atue para melhorar a vida das pessoas que mais precisam. Em um aspecto, ela e Lula se posicionaram de forma igual na campanha: a prioridade será o combate à fome.
"Tenho certeza de que o presidente vai nos ajudar Pernambuco no momento mais desafiador de sua história. Temos hoje 2 milhões de pessoas que passam fome e não pode demorar. Temos o projeto de bolsa emergencial de R$ 300 para as mães de crianças de zero a seis anos, restaurantes populares", disse.
O que explica a vitória em três pontos
Para o cientista político Adriano Oliveira, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), três pontos foram determinantes para a vitória de Raquel no segundo turno:
"Primeiramente, tem a rejeição de Marília Arraes, maior do que a de Raquel Lyra; o segundo ponto foi o efeito do luto em prol de Raquel, que enfraqueceu a nacionalização; e, em terceiro lugar, houve a rejeição ao PSB e a percepção de que Marília era uma extensão da família Campos e Arraes, que já estão há muito tempo no poder", avalia.
O luto de que ele fala foi a morte repentina do marido de Raquel, Fernando Lucena, 44, na manhã do dia da votação do primeiro turno. Ele era o coordenador da campanha dela no agreste do estado.
Com isso, Raquel conseguiu atrair o voto dos lulistas e caminhar entre os eleitores de Bolsonaro e de Lula."
Adriano Oliveira, da UFPE
De acordo com o cientista político, havia no estado um rejeição alta ao governo do estado, comandado pelo PSB desde 2006.
"Havia essa rejeição da era PSB, inclusive pelo tempo deles no Recife [desde 2012 no poder]. Vejo como falha, também, a estratégia de Danilo Cabral de esconder Paulo Câmara e não ter mostrado os feitos do seu governo", completa.
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