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Carlos Madeiro

REPORTAGEM

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Planejamento de Bolsonaro impede ampliação da cobertura vacinal em 2023

Idoso recebe vacina contra a gripe, cuja campanha nacional acabou oficialmente em junho  - Reprodução/Prefeitura de Jacareí
Idoso recebe vacina contra a gripe, cuja campanha nacional acabou oficialmente em junho Imagem: Reprodução/Prefeitura de Jacareí

Colunista do UOL

20/12/2022 04h00

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O Ministério da Saúde do governo Bolsonaro não apresentou planejamento para produção ou compra de imunizantes que seja capaz de impulsionar a vacinação no ano que vem.

Não está previsto que no próximo ano haverá mais doses do que em 2022. Desde 2016, a cobertura vacinal está em queda.

O Instituto Butantan informou que não tem nenhum contrato assinado com a pasta para aquisição de vacinas ao PNI (Programa Nacional de Imunização) em 2023 —isso inclui doses de imunizantes contra tuberculose e poliomielite, por exemplo.

Segundo Dimas Covas, diretor executivo da Fundação Butantan, apenas no último dia 13 o ministério enviou uma solicitação de proposta para compra de 80 milhões de vacinas da gripe. Esse acordo já deveria estar fechado pelo menos desde novembro.

"Nós já encaminhamos a proposta e estamos no aguardo. Mas só houve indicativo de resolução da vacina da gripe, não para as demais", diz.

No caso da CoronaVac, Dimas diz que o Butantan parou a produção há quatro meses, após o governo fazer a última compra de doses.

"Temos aqui ainda 2,5 milhões de doses, ao mesmo tempo que temos ouvido vários estados com a segunda dose [para o público infantil] atrasada. Não houve manifestação sobre aquisição, e aguardamos o próximo governo definir sobre a CoronaVac."

O Butantan repetiu o planejamento da produção de vacinas no mesmo quantitativo de 2022 (veja aqui o calendário básico de vacinação). São produzidas pelo Butantan vacinas contra seis doenças.

O número de doses é suficiente apenas para manter os atuais patamares, que não chegam a 80% da cobertura vacinal. Dimas afirma que é preciso planejamento, pois a produção demanda tempo. "Não se aumenta da noite para o dia."

O montante de recursos para vacina tem caído desde 2019, com exceção da covid. Ao mesmo tempo, as taxas vacinais vêm caindo, e se cria um círculo vicioso: a cobertura é baixa, se compra menos vacina e não se faz uma política consistente de recuperação."
Dimas Covas, Fundação Butantan

A coluna questionou o Ministério da Saúde sobre essa falta de planejamento de compra, mas não obteve retorno.

O Instituto Bio-Manguinhos, da Fiocruz, informou que a pasta já solicitou produção e fechou acordos para 2023 para todas as vacinas do PNI.

Falta, porém, o acordo pelo imunizante contra covid-19. "Ainda está em negociação, pois a campanha vacinal para covid para o próximo ano não foi definida", diz o instituto.

O Bio-Manguinhos informou que, ao contrário do Butantan, não assina contrato com o Ministério da Saúde porque a Fiocruz faz parte da pasta. O instituto produz vacinas contra oito doenças.

A Fiocruz é responsável pela produção da Astrazeneca, segunda vacina mais aplicada contra a covid-19 no Brasil, com 130 milhões de doses (30,9% do total), atrás apenas da Pfizer.

Ampliar a vacinação é uma das metas emergenciais para os 100 primeiros dias do próximo governo.

Vamos ter dificuldades para colocar a vacinação em dia. Vacina não é fast food, que você aperta um botão e sai. Será complicado."
Arthur Chioro, coordenador do grupo de trabalho da Saúde na equipe de transição

A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Isabella Ballalai, lembra que, por falhas nesse planejamento, o país ficou sem vacina BCG este ano e precisou esperar. "O Brasil teve de buscar no mercado internacional, mas não tinha para pronta entrega. Isso deixou sem vacina suficiente, demorou alguns meses para chegar"

"O que temos visto da transição e do próprio Lula é que vacina vai ser prioridade do governo. Mas os desafios são muitos grandes, em pouco tempo não se resgatam os resultados e estrutura do PNI."