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Tragédia ianomâmi gera fila de espera de crianças desnutridas para remoção
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A tragédia causada pela desnutrição na Terra Ianômami resultou em uma fila de crianças com desnutrição grave que requerem remoção urgente do local para Boa Vista, segundo afirma Junior Yanomami, presidente do Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) e da Urihi Associação Yanomami.
Desde o dia 18, equipes de saúde enviadas pelo Ministério da Saúde chegaram ao território. Desde então, em caráter de urgência, 14 crianças foram transferidas de helicóptero para atendimento hospitalar em Boa Vista por causa de desnutrição grave.
Duas dessas crianças foram levadas na manhã de hoje. A prioridade são os bebês. "Temos ainda 18 aqui na unidade de saúde sendo atendidas para serem avaliadas e provavelmente levadas também", conta.
O presidente Lula visita hoje Roraima para ver a situação. O Ministério da Saúde decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária aos ianomâmis. A portaria foi publicada em edição extra do DOU (Diário Oficial da União) ontem e já está em vigor.
A comunidade Surucucu é uma das mais afetadas e com indígenas com casos mais graves de desnutrição. É lá que Júnior está monitorando a ação emergencial.
Neste sábado (21), ele enviou fotos de atendimentos à coluna, que mostram crianças extremamente magras. O problema também atinge adultos.
Na unidade de saúde local, além do atendimento dos profissionais, eles recebem alimentação adequada para ir se recuperando.
A tragédia dos Ianomâmi, diz Júnior, é causada principalmente pela poluição dos rios causada pelo garimpo e que fornecem água ao povo.
Nosso povo, incluindo aí as crianças, toma essa água suja. Hoje tem rio que é só lama. Não temos mais água potável, e com isso chegaram problemas de saúde. O garimpo está descontrolado na terra."
Júnior Yanomami
Cinco anos de agravamento
Segundo o líder do povo Ianomâmi, a situação no local se agravou desde 2018 e atingiu níveis alarmantes a partir de 2020 com a invasão ainda mais forte dos garimpeiros, sem qualquer ação contrária do governo federal.
"Hoje são 20 mil atuando em nosso território, e temos 5 das 78 unidades de saúde tomadas por ele e fechadas", conta Júnior.
Para ele, a chegada das equipes de saúde e o decreto de emergência foram muito comemorados. "A verdade é que agora a esperança chegou", diz.
Acredito que o governo Lula vai salvar ianomâmis, porque a gente já perdeu muitas crianças. Com esse decreto, a gente vai receber profissionais, já que hoje temos muitas regiões que não recebem a mínima assistência."
Ainda de acordo com as entidades, apesar de 73 postos abertos, quase todos tinham escassez de profissionais, o que impedia, por exemplo, as visitas domiciliares.
Ao longo dos últimos anos, a entidade presidida por Júnior e outras mandaram vários ofícios e pedidos cobrando atendimento. "Eu mandei mais de 100 pedidos e informando o drama vivido à Sesai [Secretaria de Saúde de Indígena), Funai, Ministério Público", relata.
Além disso, várias denúncias foram publicadas pela imprensa. Em março do ano passado, por exemplo, a coluna publicou que garimpeiros tomaram uma pista de pouso e um posto de saúde na comunidade Homoxi.
"Com essas denúncias, vinha o pessoal para uma visita e ia embora. Apagavam um fogo como bombeiro, resolvia um probleminha e deixava os grandes e fomos sofrendo", diz Júnior.
Ações governamentais
Em Roraima, o governo montou um Centro de Operações de Emergências. O Ministério da Saúde afirmou quer "planejar, organizar, coordenar e controlar as medidas a serem empregadas".
As ações se darão em conjunto com gestores estaduais e municipais do SUS (Sistema Único de Saúde).
O grupo ligado à emergência deverá propor ao ministério "o acionamento de equipes de saúde, incluindo a contratação temporária de profissionais" e a "aquisição de bens e a contratação de serviços necessários para a atuação" na emergência.
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