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Justiça começa a julgar PMs acusados de maior chacina do CE por 'vingança'
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A Justiça do Ceará começa a julgar hoje os PMs acusados de participarem da maior chacina policial praticada em Fortaleza na história. Em 2015, a chacina do Curió vitimou 11 pessoas — oito delas entre 17 e 18 anos. Segundo o MP-CE (Ministério Público do Estado do Ceará), os agentes agiram por "vingança" após a morte de um soldado, mas atingiram pessoas sem relação com crimes.
Entenda o caso
Onze pessoas foram assassinadas em bairros da região Grande Messejana, em Fortaleza, entre a noite e madrugada dos dias 11 e 12 de novembro de 2015, segundo a denúncia do MP.
Quatro policiais militares vão a júri popular agora, mas o processo inclui 30 réus. Outros 16 PMs acusados devem ir a júri em agosto e setembro.
A defesa dos quatro PMs afirma que eles são inocentes (veja mais abaixo).
A chacina foi desencadeada horas após o soldado Valtermberg Chaves Serpa ser morto, após reagir a um roubo contra a esposa dele no bairro Lagoa Redonda, em Fortaleza.
Nenhuma das vítimas tinha relação com a morte do PM e, segundo a denúncia, foram atingidas a esmo. A chacina ocorreu em um intervalo de três horas e meia após o assassinato do soldado.
A conclusão do MP é que policiais de plantão e também de folga foram às ruas de três bairros para matar por "vingança". Diante da complexidade do caso, uma força-tarefa formada por 12 promotores investigou o caso.
MP-CE relata frieza de assassinos
O MP afirma que as vítimas foram mortas em nove episódios diferentes e relata um por um dos casos (Leia cada um deles aqui).
A atuação dos policiais chamou a atenção pela extrema frieza e violência. Um dos relatos do MP diz que um dos crimes foi praticado contra um jovem que teve uma criança arrancada dos braços. Jandson Alexandre, 18, levou tiros no peito e na testa na frente de quatro crianças.
A explanação revela que a ação do grupo foi articulada. Para isso, foram reunidos elementos concretos, suficientes e idôneos da autoria ou participação dos denunciados nos crimes."
MP-CE
O que dizem familiares?
Em defesa da memória de seus filhos, o movimento Mães de Curió cobra justiça e esclarecimentos acerca da chacina.
A caminhada foi longa, são quase oito anos em que não paramos de fazer movimentações. Até o júri foi uma construção de luta, e estou confiante na Justiça. Muitos movimentos e pessoas nos apoiam, então achamos que tem uma chance grande de que os culpados sejam condenados."
Edna Carla Cavalcante, mãe de uma das vítimas
A chacina teve grande repercussão à época e levou à atuação de entidades internacionais no caso — como a Anistia Internacional. Elas cobram justiça.
O que diz a Defensoria Pública?
Para a defensora-pública Geral do Ceará, Elizabeth Chagas, nada explica o que os assassinos fizeram.
Eles mataram pessoas aleatoriamente, entraram nas casas e saíram atirando. Foi uma fúria de policiais, que é justamente de quem se espera receber proteção. Todas as testemunhas relatam isso."
Defensora-pública Geral do Ceará, Elizabeth Chagas
A pedido das famílias, a Defensoria vai atuar como assistente de acusação no júri ao lado do MP.
Dar justiça é importante para fechar uma página e para que a gente possa tomar outras providências. Temos uma ação civil pública que pede o reconhecimento do Estado pela responsabilidade do crime, o atendimento clínico [de sobreviventes e familiares] e um memorial [pelas vítimas]."
Defensora-pública Geral do Ceará, Elizabeth Chagas
A chacina também deixou marcas na Defensoria Pública do Estado, que mudou sua forma de atuar. O órgão criou a Rede Acolhe, que atende vítimas de violência. Nesse grupo, as vítimas da chacina recebem vários tipos de assistência, além da jurídica.
Alguns dos sobreviventes da chacina tiveram sequelas. Um ficou cadeirante, por exemplo, e precisa de cuidados especiais.
Defesa de PMs vai alegar inocência
"Houve pressa da acusação para dar respostas às famílias e à sociedade", diz a advogada Patrícia de Castro, que defende dois policiais que vão a júri. Ela afirma que deixaram de investigar muitos dos verdadeiros autores da chacina.
Isso fez com que as investigações não buscassem os verdadeiros culpados, mas, sim, denunciaram e atribuíram a culpa a alguns policiais que estiveram nas proximidades sem que houvesse qualquer envolvimento ou sequer conhecimento desses sobre os crimes."
Patrícia de Castro, advogada
Segundo a advogada, os seus clientes Wellington Veras Chagas e Ideraldo Amâncio já estavam em casa quando tiveram início as primeiras mortes da chacina.
Existem várias provas nos autos que mostram isso. Muitos [dos réus], inclusive, só passaram por lá, uma vez que havia um policial internado no hospital da região. Uma pena para as famílias das vítimas, que podem ter uma resposta, mas não terão justiça, uma vez que muitos dos verdadeiros culpados jamais serão investigados ou denunciados."
Patrícia de Castro, advogada
Os outros dois réus também alegam inocência.
Ele reconhece que esteve no local, mas a informação que obteve para ir lá é de que haveria uma ação de busca pela mata. Quando chegou e percebeu que tinha muita gente, ele foi embora. As câmeras de segurança das avenidas próximas mostram que ele estava no sentido contrário no momento em que ocorreram os crimes."
Antonio Delano Soares Cruz, advogado do PM Antônio José de Abreu Vidal Filho
Ele não participou e, na verdade, não existe prova de quem participou. A polícia não encontrou prova de quem fez. O que alegam é que havia carros de polícia no local, que atiraram e mataram, mas não estão dizendo quem fez o quê."
Walmir Pereira de Medeiros Filho, advogado do PM Marcus Vinícius Sousa da Costa
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