Carlos Madeiro

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Reportagem

Governo de AL acusa Braskem de confundir investidor em venda; empresa nega

O Governo de Alagoas publicou ontem um informe de fato relevante à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em que acusa a Braskem de "confundir investidores" com informações distorcidas e solicita participação nas negociações de venda da empresa. A Braskem nega.

A alegação do governo é que o Estado é o maior credor da petroquímica, que causou dano ambiental por causa da mineração urbana sem precedentes no mundo.

Não faz sentido algum que, justo Alagoas -- vitimado pelo mega desastre provocado pela Braskem em Maceió, com reflexos ambientais em todo o Estado -- seja alijado das negociações, visto o interesse público envolvido de milhares de habitantes.
Nota do governo de Alagoas

O que aconteceu

A Braskem recebeu ao menos duas propostas desde maio. Hoje, a empresa está sob controle da Novonor (ex-Odebrecht).

Uma proposta — de junho — foi da Unipar, controlada pela família Geyer, para compra indireta do controle acionário da Braskem. As empresas seguem conversando.

No fim de maio, a gestora americana Apollo, em conjunto com a estatal árabe Adnoc, fez uma proposta de R$ 37,5 bilhões pelas ações da petroquímica, mas a Novonor recusou.

Também há informações de que a Petrobras — que é sócia da Braskem — pode exercer o direito de preferência em caso de venda de participação acionária.

Para o governo alagoano, "os informes divulgados pela petroquímica têm o potencial de confundir investidores, as bolsas de valores onde opera, a CVM e os potenciais novos controladores".

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O governo de Alagoas considera imperativo informar aos interessados na aquisição da Braskem que o chamado 'passivo de Alagoas' está ainda longe de ter sua resolução positivamente encaminhada, diferentemente de como a empresa deseja fazer crer em suas notas ao mercado ou em documentos oficiais.
Nota do governo de Alagoas

Casa é demolida no bairro do Mutange, em Maceió, onde o solo sofreu afundamento após mineração iniciada nos anos 1970
Casa é demolida no bairro do Mutange, em Maceió, onde o solo sofreu afundamento após mineração iniciada nos anos 1970 Imagem: Divulgação

O que diz a Braskem

Em nota, a Braskem refuta a ideia de confundir investidores e diz que os dados "constam dos resultados da companhia divulgados ao mercado."

A empresa ainda informa que até março já desembolsou R$ 7,5 bilhões com indenizações e medidas socioambientais e econômicas em Alagoas. De acordo com o texto enviado à reportagem, as provisões já feitas somam mais de R$ 13 bilhões.

A respeito do processo de venda das ações da Braskem, a companhia reforça que não conduz eventuais negociações de seus acionistas e que qualquer alteração acionária não altera os compromissos assumidos pela Companhia nos acordos de Alagoas.
Braskem, em nota

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O que ocorre em Maceió

Desde 2018, Maceió registra afundamento do solo de cinco bairros. O problema foi causado pela extração por mais de 40 anos de sal-gema do subsolo da capital alagoana.

A mineração criou crateras subterrâneas, que fizeram casas e prédios racharem, causando a remoção forçada de 60 mil pessoas e a desocupação de 17 mil imóveis.

Em junho, o governo de Alagoas chegou a conseguir o bloqueio judicial de R$ 1 bilhão para pagar parte dos danos, mas a medida acabou sendo revertida dias depois pelo Tribunal de Justiça.

Para o Estado, quaisquer propostas de compra terão que considerar a dívida da empresa em Alagoas e suas alternativas de como pretende pagar.

Este governo reforça o alerta de que o passivo da Braskem em Alagoas permanece em aberto -- além dele, com ex-moradores das áreas afetadas, proprietários de imóveis do entorno, Prefeitura de Maceió e mais cinco prefeituras da Grande Maceió que tiveram impactos indireto.
Nota do governo de Alagoas

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Muro pichado em casa abandonada no bairro do Pinheiro, em Maceió
Muro pichado em casa abandonada no bairro do Pinheiro, em Maceió Imagem: Carlos Madeiro/UOL

Reportagem

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