Carlos Madeiro

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Reportagem

ONU: Com Brasil, mundo tem 66% da população em países com baixa fecundidade

Relatório do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) divulgado na terça (11) aponta que 2/3 da população mundial vive em países de baixa fecundidade — entre eles o Brasil, que registrou em 2023 a sua menor taxa de filhos por mulher. (Veja aqui a íntegra)

O que aponta o órgão da ONU

O Brasil está com taxa de fecundidade de 1,62 filho por mulher. O índice está em queda — no documento "Situação da População Mundial", o órgão cita que o índice de reposição da população no país seria de 2,1 filhos por mulher.

A pesquisa ouviu mulheres em 68 países. 44% das entrevistadas com parceiros se disseram incapazes de tomar decisões sobre saúde, sexo ou contracepção.

As taxas de fecundidade do período também respondem fortemente a choques externos e mudanças nas condições sociais. Crises econômicas, instabilidade política, epidemias (inclusive a recente pandemia de coronavírus) e mudanças nas políticas familiares podem levar a oscilações consideráveis na taxa de fecundidade total.
Relatório do UNFPA

Ao mesmo tempo que a UNFPA relata a queda, cita que a maior preocupação está na persistente sonegação de direitos sexuais e reprodutivos das mulheres no país — dificultando assim a garantia de uma maternidade planejada e segura.

Quase metade das gestações são não intencionais, o que configura uma revogação do direito humano básico das mulheres de decidir livre e responsavelmente o número de filhos que quer ter e quando tê-los.
Natalia Kanem, diretora executiva do UNFPA

O relatório diz que apenas oito países devem responder por metade do crescimento projetado da população global até 2050. São eles:

  • República Democrática do Congo
  • Egito
  • Etiópia
  • Índia
  • Nigéria
  • Paquistão
  • Filipinas
  • República Unida da Tanzânia
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Mercado de rua em Lagos, na Nigéria, um dos países que tem maior taxa de fecundidade do mundo
Mercado de rua em Lagos, na Nigéria, um dos países que tem maior taxa de fecundidade do mundo Imagem: iStock

Gravidez juvenil

A representante auxiliar do UNFPA Brasil, Junia Quiroga, afirma que há uma preocupação no país em relação ao alto percentual de crianças, adolescentes e jovens que engravidam. Em 2021, 38% dos partos no país foram de mães entre 10 e 24 anos.

Se por um lado [a taxa de fecundidade] está caindo, por outro ela está concentrada em mulheres mais jovens. Isso indica acesso insuficiente à informação das gerações mais baixas, que gera como consequência a gravidez não intencional. Isso muitas vezes gera também evasão escolar, uma segunda não intencional.
Relatório da UNFPA

Quiroga afirma que apesar de estar abaixo do que chamam de "número mágico" de 2,1 filhos por mulher, o Brasil acompanha um cenário de vários países que estão com taxas de fecundidade menores. Para ela, isso não deve ser visto como um problema em si.

Não é um [dado] perigoso ou de alerta. A questão que precisamos saber é: as pessoas estão tendo direitos assegurados sexuais e reprodutivos assegurados?

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A UNFPA defende que as mulheres brasileiras tenham acesso a informações e meios para uma gestação e parto seguros.

Se teve uma gestação planejada, a condição de prover uma infância e adolescente saudável daquele filho/filha é muito maior, além de gerar gerações mais empoderadas. Mas só é capaz de planejar se tem informação.

UNFPE defende direitos sexuais e reprodutivos a mulheres
UNFPE defende direitos sexuais e reprodutivos a mulheres Imagem: iStock

Queda acompanha Censo

O relatório que aponta queda de fecundidade vai ao encontro dos dados iniciais do Censo 2022, que mostraram que a população brasileira cresceu menos que o esperado, e em um ritmo cada vez mais lento — por ano, a taxa média de crescimento foi de 0,52%, a menor já registrada pelo IBGE.

Os dados indicam que as famílias estão ficando menores. O número de moradores em domicílios também é cada vez menor: são agora 2,79 em média; há 13 anos, esse número era de 3,31.

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A contadora Letícia Nunes de Barros, 28, mora em Maceió e conta que ela e o marido decidiram que seu filho, Liam, de 2 anos e oito meses, seria o único.

Ela explica que questões financeiras pesaram na decisão, mas o fator decisivo foram os "sustos" com problemas de saúde da criança.

Ele teve pneumonia por dois anos consecutivos. Já colocou um caroço de azeitona no nariz, pegou um vírus que causa 'mão-pé-boca', doença que nunca ouvi falar. Teve taquicardia por uso de aerolin de madrugada, e fomos para a emergência às 3h da madrugada; dentre outros. Não suportaria passar por mais sustos com um outro filho.

Letícia, o marido Alex Rinaldo, 27, e Liam
Letícia, o marido Alex Rinaldo, 27, e Liam Imagem: Arquivo pessoal

Já a médica Iris Campos Lucas, 40, mora no Recife e diz que até chegou a pensar em ter filhos em certo momento da vida, mas ponderou que teria que abrir mão de muita coisa. "Hoje nem eu nem meu namorado temos essa vontade", diz.

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Eu já tive vontade em alguns momentos, porém sempre coloquei muito na balança as exigências que as pessoas têm de uma mãe, de uma mulher que vai ter filhos. É muita entrega e devoção, comparado com o que as pessoas cobram de um pai, por exemplo.

A médica Iris Lucas decidiu não ter filhos
A médica Iris Lucas decidiu não ter filhos Imagem: Arquivo pessoal

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