Órgão aprova estudo, e obra que preocupa empresas de internet avança no CE
O Conselho Estadual do Meio Ambiente do Ceará aprovou por unanimidade hoje o estudo de impacto ambiental do projeto de instalação da usina de dessalinização de água do mar que será instalada na praia do Futuro, em Fortaleza.
Com o estudo aprovado, cabe à Secretaria de Meio Ambiente do Ceará dar a licença prévia para o início das obras pela PPP (parceria público-privada) entre a Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará) e o Consórcio Águas de Fortaleza.
Internet pode cair?
Construção gera polêmica e receio de queda da internet. As empresas de tecnologia alegam que a praia escolhida é a mesma em que chegam 17 cabos submarinos —e isso traria riscos, já que eles trazem 99% dos dados de internet ao país, segundo dados do Ministério das Comunicações.
É no local que está o segundo maior hub do mundo de sistemas ópticos, atrás apenas de Marselha, na França.
Não há risco, dizem responsáveis por obra. O governo do estado e a empresa que venceu a licitação dizem que os dutos ficarão a mais de 500 metros do cabo e o risco de afetá-los é zero.
Aprovação do projeto
A aprovação do estudo ocorreu em votação na 311ª reunião ordinária do conselho. Foram 22 votos a favor e 4 abstenções.
A usina terá um investimento em 30 anos de R$ 3 bilhões. O consórcio vencedor da PPP fará um investimento de R$ 520 milhões na planta, mais R$ 2,5 bilhões para manutenção e operação do sistema. As obras estão previstas para começar no início de 2024
Quando pronta, a obra vai fornecer água para abastecer cerca de 700 mil pessoas da capital, mas deve ajudar todo o estado, já que a água que abastece a capital cearense —que não tem mananciais— vem do interior.
Por que os cabos chegam em Fortaleza?
A capital cearense possui uma logística estratégica para o setor por estar mais próxima dos Estados Unidos, onde está o grosso dos dados de internet do mundo.
A obra pode gerar apagão de internet no país porque não está se colocando uma usina onde tem um cabo, mas onde tem um hub todo! Hoje, ninguém pensa em chegar com internet no Brasil por outro caminho que não seja o de Fortaleza.
Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da TelComp, entidade que representa operadoras de telefonia, banda larga e acesso à internet; TV por assinatura e data centers
Em caso de um dano de cabo, por exemplo, um conserto pode levar semanas, diz Luiz, o que causaria nesse período no mínimo uma redução de tráfego de dados.
Ele também afirma que o setor não vê problema em ter a usina na cidade, mas questiona a escolha do local.
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Quero receberSe a gente voltasse 20 anos e já tivesse a usina, nenhuma companhia escolheria colocar cabo lá porque haveria unidade industrial. Essas áreas são escolhidas justamente por serem ideais para investimentos. Falamos de valores bilionários.
Luiz Henrique Barbosa
Risco é zero, diz consórcio
O diretor-presidente da SPE (Sociedade de propósito específico) Águas de Fortaleza, Renan Carvalho, afirma que o projeto não tem como afetar cabos de internet.
Ele diz que estudos estão sendo feitos desde 2018, e o projeto inicial foi alterado para aumentar a distância dos dutos de captação e emissão dos resíduos dos cabos submarinos. Ele diz que ambos serão instalados a uma distância superior a 500 metros.
Quando a distância era de 40 e 50 metros já não existia risco; o governo alterou, e depois dessa mudança a gente assiste perplexo essa conversa de que pode haver dano. É um absurdo falar de risco a qualquer tubulação.
Renan Carvalho
Sobre a parte terrestre da instalação sob os data centers instalados do local, o diretor da SPE também rechaça a ideia de que cruzamento de tubos vão trazer riscos.
Enquanto a gente está falando aqui existe alguma instalação cruzando cabo na cidade. Para você ter ideia, só entre as praias do Futuro e a Aldeota são mais de 1.000 cruzamentos de cabos. Essa obra vai cruzar mais alguns, mas e daí? Existem data centers em lugar muito pior.
Renan Carvalho
O governador Elmano de Freitas (PT) já declarou ser a favor da usina na praia do Futuro e garantiu que não há chance da obra mudar de lugar.
A questão é que todos os estudos técnicos que fizemos por mais de dois anos são claros que não há nenhum risco aos cabos. O que não é possível é que as empresas donas dos cabos de internet queiram ser donas da praia do Futuro. Isso não é razoável. A praia do Futuro é do povo do Ceará, do povo de Fortaleza.
Elmano de Freitas, em fala à rádio O Povo/CBN
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