De adega a cristais: MP aponta como padre preso usou verba pública desviada
A investigação que resultou na prisão do padre Egídio de Carvalho Neto, 56, revelou um suposto esquema de corrupção durante 10 anos, desviando recursos que deveriam ir para instituições que prestam serviços de assistência social e à saúde de pessoas pobres da Paraíba.
O que aponta o MP-PB
Foram desviados cerca de R$ 140 milhões do hospital Padre Zé e instituições ligadas, segundo o Ministério Público da Paraíba.
O padre Egídio teria adquirido uma série de serviços e bens, como 29 imóveis. Neles havia itens de luxo, como adegas para os vinhos e obras de arte.
Carros e cristais também estariam entre as aquisições. Até a faculdade de medicina do sobrinho, em São Paulo, com mensalidade de R$ 13 mil, teria sido paga com a verba.
Para operacionalizar o esquema, o padre contava com apoio de duas mulheres: Jannyne Dantas Miranda e Silva, tesoureira do Instituto São José e do próprio Hospital Padre Zé, e Amanda Duarte Silva Dantas, que atuava na contabilidade.
Elas também tiveram prisão decretada pelo desembargador Ricardo Vital de Almeida, mas apenas Jannyne ficou detida. Por estar amamentando, Amanda teve direito a prisão domiciliar.
A operacionalização administrativa esteve sob a égide de Jannyne, enquanto a gestão financeira estava a cargo de Amanda. Este mecanismo se direcionava primordialmente ao processamento de vantagens indevidas em favor dos envolvidos, aproveitando-se da relação contratual com o Instituto São José/Hospital Padre Zé e com a Ação Social Arquidiocesana.
Ordem de prisão da Justiça
Outro lado
O advogado do padre Egídio, José Rawlinson Ferraz, foi procurado pela coluna, mas não retornou a mensagem. O texto será atualizado em caso de manifestação.
O advogado das duas mulheres citadas, Diego Wallace Nascimento, divulgou nota neste sábado em que nega, "de modo veemente", o recebimento de recursos indevidos por elas.
Apesar da vastidão de documentos colecionados na operação Indignus, nenhum elemento probatório dá conta de que as mesmas de algum modo tenham locupletado-se pessoalmente ou por meio de terceiros, de verbas oriundas do Hospital Padre Zé, sendo certo que, tais afirmações podem ser percebidas desde já, mas contudo, serão devida e cabalmente comprovadas no curso processual.
Lista de aquisições do padre, segundo o MP
Foram 29 imóveis comprados, parte deles registrados em nome de terceiros próximos ao padre. Ele ainda teria utilizado recursos do hospital para quitar reformas e projetos arquitetônicos.
Pagou R$ 350 mil a uma mulher por itens de decoração.
Outros R$ 358 mil foram pagos em obras de arte, em um antiquário especializado em arte sacra.
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Quero receberTodos os imóveis de propriedade de Egídio possuíam adornos luxuosos, tais como obras de arte, artes sacras, cristais, eletrodomésticos, equipamentos domésticos, peças de vestuários e acessórios no geral.
MP-PB
Compra de um veículo Spin 2022 por R$ 122 mil, pagos em espécie. Em seguida, ele determinou a locação do veículo ao próprio instituto, que pagava R$ 3,5 mil por mês ao padre.
O veículo sempre permaneceu como sendo de uso exclusivo do núcleo familiar de Jannyne, o que caracteriza verdadeira fraude institucional para o enriquecimento ilícito de poucos.
Despacho do MP
Pagamentos de faturas de cartão de crédito também usavam a verba, segundo dados colhidos do telefone celular do padre. Pelo menos três comprovantes são citados com valores de R$ 35 mil (ago/2022), R$ 19 mil (set/2022) e R$ 30 mil (out/2022).
R$ 119,9 mil em vinhos, pagos com recursos públicos destinados ao Instituto São José. Esse gasto foi descoberto pelo MP entre 2022 e 2023.
Itens de luxo como adegas "gourmet", com custo de mercado de R$ 8 mil. O utensílio seria para manter os vinhos gelados.
Anotações feitas por Amanda Duarte, num dos cadernos encontrados na tesouraria, indicam que os fornecedores eram orientados a faturar os pedidos com valores superiores aos efetivamente entregues.
Despacho do MP
R$ 15 mil em óticas na cidade de São Paulo, utilizando verbas do instituto.
Além da enorme quantia movimentada pelas contas de Egídio, Amanda efetuava, mensalmente, o pagamento dos gastos mensais de Egídio, decorrentes das taxas condominiais dos vinte e nove imóveis, pagamento de dois caseiros da granja, faturas de cartão de crédito e outros gastos em geral.
Despacho do MP
Viagens entre SP e PB. A investigação aponta indícios de "vários pagamentos relativos a compras de passagens aéreas para os trechos São Paulo/João Pessoa e João Pessoa/São Paulo". Pelo menos R$ 62 mil foram pagas pelo Instituto São José.
O MP aponta uma Aquisição fraudulenta e o pagamento de 38 monitores para o Hospital Padre Zé com recursos da Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa em um valor de R$ 363 mil. Entretanto, o número "não coincide com o inventário do setor de patrimônio do referido hospital". Segundo a denúncia, eles seriam cruciais para o "tratamento de pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave, especialmente em contexto de pandemia de covid-19."
Neste momento, a credibilidade do Hospital Padre Zé está agonizando, enquanto Egídio mergulha nos confins da avareza, afogando-se no sangue de inocentes que poderiam ter sido salvos pela correta aplicação das verbas percebidas.
Despacho do MP
Entenda a investigação
Egídio foi preso nesta sexta-feira, após se entregar e cumprir ordem do desembargador. Ele passou por audiência de custódia, e a prisão foi mantida.
A investigação no hospital Padre Zé começou em julho, com a operação "Pai dos Pobres". Ela apurou o furto de 600 equipamentos eletrônicos do hospital Padre Zé. Ali, o padre Egídio começou a aparecer como suspeito.
A partir de então, foram identificados mais de trinta atos (em tese) ilícitos, cometidos pelo grupo criminoso liderado pelo Padre Egídio. As averiguações iniciais já trazem à tona indícios de irregularidades desde o início da gestão de Egídio no ano de 2013 até os tempos atuais, evidenciando um crescimento patrimonial desproporcional durante sua administração.
Despacho do MP
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