Carlos Madeiro

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MST e CPT cobram ações do governo Lula após mortes em série no campo

Movimentos que lutam pela reforma agrária cobram o governo Lula (PT) por mais ações para conter a violência no campo.

A CPT (Comissão Pastoral da Terra), ligada à Igreja Católica, e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) denunciam que houve uma escalada da violência com registro de cinco mortes no Norte e Nordeste somente neste mês em áreas de conflito. Os crimes ocorreram entre os dias 5 e 11.

A CPT, por exemplo, cobrou que a recém-criada pelo governo federal Comissão de Enfrentamento à Violência no Campo "assuma com urgência esse papel", articule as respostas governamentais e dialogue com os Poderes e a sociedade civil.

A violência nos últimos dias deve ser, para nós, um alerta! Tratamos aqui de conflitos extremamente complexos que demandam também respostas complexas. Nesse sentido, as respostas devem ser abrangentes, atacando diretamente a raiz dos problemas.
Nota da CPT

Os crimes

Em Pernambuco, no dia 5, o agricultor e acampado Josimar da Silva Pereira foi assassinado na cidade de Vitória de Santo Antão. Josimar Pereira, 30, foi morto a tiros quando ia para o acampamento Francisco de Assis, onde trabalha na irrigação de uma plantação de arroz. Ele era do MST.

Josimar foi assassinado na manhã do dia 5 em Vitória de Santo Antão (PE)
Josimar foi assassinado na manhã do dia 5 em Vitória de Santo Antão (PE) Imagem: MST

No Maranhão, no último dia 10, um grupo de dez policiais suspeitos de integrar um grupo paramilitar invadiu o povoado São Francisco, em Barra do Corda, e foi recebido a bala. Um deles morreu e teve o corpo carbonizado, enquanto outros dois ficaram feridos.

A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que, dos dez, nove deles eram policiais militares e um, policial penal. Eles foram detidos e autuados em flagrante pelo crime de formação de milícias. A polícia investiga quem teria financiado o grupo para ir ao local realizar uma desocupação forçada —a área é ocupada há cerca de 50 anos por posseiros.

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Eu acho que o que resume essa escalada de violência no campo é a impunidade, a inoperância dos órgãos estatais e federais na garantia dos direitos de comunidade tradicionais. Eu diria até que há cumplicidade do Estado com as violências cometidas pelo agronegócio. A gente percebe sistematicamente que as ações são a favor do capital, e não da garantia dos direitos dos povos.
Márcia Palhano, CPT do Maranhão

Policiais suspeitos de integrar milícia invadiram povoado de Barra do Corda (MA); um deles morreu e teve o corpo carbonizado
Policiais suspeitos de integrar milícia invadiram povoado de Barra do Corda (MA); um deles morreu e teve o corpo carbonizado Imagem: Redes sociais

No Pará, também no dia 10, a vítima foi o indígena Agnaldo da Silva, da etnia Turiwara. Ele foi morto em uma área de disputa onde ocorre a chamada guerra do dendê, que opõe povos tradicionais e empresas.

Segundo a CPT, ele ia para a floresta buscar alimentos e foi morto por seguranças da empresa Agropalma entre os municípios de Acará e Tailândia. A PF (Polícia Federal) investiga o caso, e a Agropalma informou que colabora com as investigações e aguarda o resultado da apuração.

Na Paraíba, no último dia 11, Ana Paula Costa Silva e Aldecy Viturino Barros, que faziam parte do Quilombo do Livramento, em Princesa Isabel, foram mortos por dois homens que chegaram em uma moto. Eles também integravam o MST.

Infelizmente a escalada da violência no campo foi alimentada pelo comportamento das elites agrárias, que têm usado o espaço público para impor seu projeto na sociedade, a exemplo da articulação dos parlamentares ruralistas em instituir a frente parlamentar invasão. Ali só se utiliza discurso de ódio em defesa intolerante da propriedade privada da terra.
Ayala Ferreira, da coordenação nacional do MST

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Para ela, a única maneira de acabar com as violências é fortalecendo a participação social, e o governo implementando políticas públicas que garantam o acesso e permanência digna na terra.

Temos acompanhado com preocupação a atuação do governo Lula e dos ministérios no que se refere a uma ampla política de reforma agrária e cuidados com os bens da natureza. Existe boa intenção, mas ela deve se transformar em ação concreta ampla e eficaz para efetivamente enfrentarmos a escalada de violência no campo brasileiro.
Ayala Ferreira

Incra fala de ações

Em nota, o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) informou que vem retomando políticas públicas na área e que elas são "agendas prioritárias" do atual governo.

Diz que dez assentamentos foram criados neste ano; 65 editais de seleção de famílias foram publicados e 67 estão para ser publicados. Além disso, cita a emissão de cerca de 38 mil títulos de domínio e concessão de uso.

O órgão diz ainda que tem feito esforços para "mapear terras devolutas para direcioná-las ao Programa Nacional de Reforma Agrária, além de promover a regularização fundiária no campo, incluindo a de territórios quilombolas, garantindo, assim, segurança jurídica às comunidades".

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Já sobre a mediação e a conciliação dos conflitos agrários, o Incra destacou o trabalho da Câmara de Conciliação Agrária.

A atuação da câmara consiste, ainda, na visita em campo nas áreas conflituosas com a finalidade de dialogar com trabalhadores rurais, movimentos e entidades, com o objetivo de atuar na mediação dos conflitos e buscar soluções para as demandas agrárias e promover a paz no campo. Nos últimos meses, a Câmara de Conciliação Agrária visitou aproximadamente 30 áreas com situações conflituosas.
Incra, em nota

Já o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar criou o Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Agrários, "objetivando fornecer uma resposta integrada, ágil e completa diante dessas questões".

A unidade atua de forma articulada com a Procuradoria Federal Especializada junto ao Incra e outros órgãos do governo federal.

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