Irmã processa Thereza Collor em capítulo de 'guerra' por herança bilionária
A empresária alagoana Maria de Lourdes Lyra, conhecida como Lourdinha Lyra, entrou com uma queixa-crime contra a irmã Thereza Collor acusando-a de calúnia e difamação.
Como a empresária cita no texto da ação, trata-se de mais um capítulo da "guerra" que trava com os irmãos, herdeiros de João Lyra —ex-deputado federal mais rico do país— que morreu aos 90 anos, em consequência da covid-19 em agosto de 2021.
Lourdinha foi indicada como responsável pela administração do patrimônio de Lyra quando ele ainda era vivo e estava com a saúde debilitada. Na época, suas empresas ruíam em profunda crise econômica. A empresária tem cinco irmãos; quatro dizem ter perdido a confiança nela.
Após a morte do pai, ela foi designada como inventariante e ingressou como parte no processo da massa falida da Laginha Agro Industrial S/A, um conjunto de usinas em Alagoas e Minas Gerais. A falência deu início a uma saga judicial que chegou até ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) como o maior processo de falência do país.
A Laginha era a empresa mais valiosa do antigo grupo João Lyra —e, por anos, foi a marca do poder do empresário em Alagoas. Em 2017, estava avaliada em 1,9 bilhão (cerca de R$ 2,7 bilhões em valores atuais).
No bojo do processo judicial, em torno da massa falida, travou-se uma verdadeira guerra entre alguns dos herdeiros do ex-parlamentar e a senhora Maria de Lourdes.
Trecho da queixa-crime
Quatro irmãos contra Lourdinha
Desde que ingressaram no processo da Laginha, quatro irmãos já pediram na Justiça a retirada de Lourdinha da função de inventariante. Coube à Thereza Collor ir à imprensa fazer acusações.
Os três pedidos:
- Abril de 2022 - Guilherme de Lyra pediu o afastamento alegando "ocultação e desvio de bens em proveito próprio ou terceiro."
- Fevereiro de 2023 - Thereza pediu o afastamento alegando "inércia e omissões" no processo falimentar, que teria "resultado no deterioramento do espólio."
- Agosto de 2023 - Thereza, Antônio Lyra e Ricardo Lyra (filhos de João) entraram juntos, dessa vez, alegando perda de confiança de quatro dos seis herdeiros em Lourdinha, além das ausências de fiscalização ao administrador judicial e de prestação de contas, descumprimento de decisões, ocultação e desvio de valores e protelação da conclusão do inventário.
Os três pedidos foram negados pela Justiça, que mantém Lourdinha como inventariante.
Entrevistas desencadeiam queixa
A queixa-crime de Lourdinha contra a irmã veio após as acusações feitas por Thereza Collor em entrevistas concedidas às revistas Veja e IstoÉ. A informação da ação foi noticiada primeiramente pelo jornal Extra de Alagoas.
Em julho do ano passado, Thereza Collor afirmou à Veja que a gestão de Lourdinha não tinha preparo e estaria impondo "custos astronômicos" com contratos de processo de longa duração "na contramão do que deve ser a falência."
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Thereza Collor
Thereza Collor voltou a acusar a irmã em nova entrevista, dessa vez à revista IstoÉ, em novembro do ano passado. Mais uma vez, afirmou que a gestão do inventário e de falência tem "parcerias suspeitas", além de dizer que Lourdinha age "com autoritarismo e sem transparência."
O conteúdo agressivo revela que a Sra. Thereza Collor imputou a ela a prática de apropriação indébita e crimes falimentares. Não bastasse isso, a querelada acusou a irmã de realizar uma gestão temerária através do deterioramento do patrimônio da família Lyra, disseminando o fato de modo a macular o prestígio social da Sra. Maria de Lourdes, que ostenta notoriedade perante a sociedade alagoana.
Trecho da queixa-crime
Uso da "figura pública de renome"
Para Lourdinha, a irmã tenta usar o fato de ser "figura pública de renome" e fazer "pressão popular" para tentar convencer o Judiciário a retirar a empresária do cargo.
Ela cita que as entrevistas foram concedidas estrategicamente antes dos atos processuais. "Ela moveu máquina midiática para conseguir gerir os bens da família.", acusa.
O ato expositivo realizado pela Sra. Thereza Collor é, em verdade, fruto da insatisfação com o posicionamento do Judiciário e visa a constranger a renúncia ou remoção da condutora do inventário. Infrutíferos os pedidos de remoção apresentados nos autos, a Querelada recorreu à mídia para buscar atingir o seu propósito.
Trecho da queixa-crime
Na ação, Lourdinha pede que seja realizada uma audiência de conciliação. Caso não se chegue a um acordo, solicita que se dê prosseguimento à queixa-crime. Por envolver a área criminal, o MP-AL (Ministério Público de Alagoas) foi chamado para se manifestar.
A coluna procurou Lourdinha, que informou por meio do advogado do caso que a família prefere se resguardar neste momento.
Também procurada, Thereza Collor não respondeu aos pedidos de entrevistas feitos pela coluna. Ao jornal Extra, porém, afirmou que a atitude da irmã "parece um desespero. "As pessoas sabem que não minto, que nunca roubei, trabalhei no Estado e saí de mãos limpas. Minha vida sempre foi pública e transparente", disse.
Os demais irmãos não foram localizados pela reportagem.
Quem é Lourdinha Lyra
Lourdinha é uma figura conhecida em Maceió. Por oito anos, foi vice-prefeita da cidade na gestão Cícero Almeida (2005-2012).
Indicada pelo pai —mentor político/financeiro das eleições de Almeida—, Lourdinha teve um mandato de ruídos: rompeu com Cícero ainda no primeiro ano do primeiro mandato ao fazer acusações contra ele. Apesar disso, foi mantida como vice na disputa a sua reeleição.
Fato curioso é que Lourdinha não assumiu um dia sequer do governo municipal. Almeida, dizem, não confiava nela; por isso, nunca transferiu o cargo a sua vice em viagens oficiais e rejeitou seu direito a férias por oito anos.
Após o mandato, Lourdinha deixou a política e voltou as suas atividades empresariais. Pouco depois, o grupo empresarial do pai entrou com pedido de recuperação judicial e teve a falência decretada pela Justiça.
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