Carlos Madeiro

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Postagem de conselheiro da Braskem negando tragédia em Maceió gera revolta

A fala do conselheiro da Braskem João Paulo Nogueira Batista, de que não houve tragédia em Maceió ao se referir ao afundamento do solo em cinco bairros, causou revolta de líderes de ex-moradores de bairros atingidos, políticos e nas redes sociais. O governador de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), também lamentou o comentário do executivo.

Em sua página no Linkedin neste sábado (27), Batista citou que "a dita tragédia de Maceió não existiu."

Graças a Deus não morreu ninguém. A ação coordenada de todos e a liderança da Braskem evitaram a tragédia. Não perdemos uma vida! Orgulhoso de pertencer ao conselho de administração que liderou todo esse processo!

Após ser contado pela Folha, ele alterou a parte do texto e inseriu que "em termos de vidas perdidas", a "dita tragédia" não existiu. Ele põe ainda um link do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para "confirmar" o seu pensamento.

Em entrevista à Folha, ele negou que tenha intenção de menosprezar o fato de que 60 mil pessoas foram expulsas de casa pelos impactos da mineração.

Batista citou ainda que indenizações foram pagas muito acima da média, informação que é frequentemente contestada por ex-moradores, que tiveram que comprar casas na periferia e até em outras cidades com o valor pago pela Braskem.

Lamento profundamente a insensibilidade do conselheiro. O maior crime ambiental em área urbana do mundo provocou suicídios, mortes derivadas de depressão, divórcios, falências, doenças crônicas, arruinou famílias, empresas e causou prejuízos inestimáveis. As mortes às quais o conselheiro se refere existem, físicas e simbólicas, e negá-las só revela quão criminosa segue sendo a conduta da petroquímica com os alagoanos. Eles têm cúmplices, é verdade, mas o Estado não desistirá de buscar a justa indenização para todas as vítimas.
Paulo Dantas (MDB), governador de Alagoas

É revoltante e desrespeitosa a afirmação de que 'ninguém morreu' em decorrência dos eventos que impactaram diretamente 65 mil pessoas. Essa declaração é uma desconsideração brutal às consequências psicológicas devastadoras enfrentadas por todos nós que fomos obrigados a abandonar nossos lares. A realidade é dolorosa, marcada por 14 tragédias de suicídios. Além disso, enfrentamos falências comerciais e desintegração familiar. Nossas moradias tornaram-se centros de angústia.
Maurício Sarmento, líder comunitário da região dos Flexais

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Eu fiquei indignado com essa fala. A tragédia não só existiu, como é fruto da articulação do poder econômico da Braskem, dos ministérios públicos. Quando ele cita a matéria do CNJ, que diz que eles evitaram a maior tragédia, traz um grande engodo. Na verdade, a 'tragédia' não existiu porque os números estão escondidos, porque as autoridades não fizeram os levantamentos e porque os acordos encobrem a realidade dos fatos.
Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração em Maceió

Ao anunciar que 'a dita tragédia de Maceió não existiu', o conselheiro só pode estar escarnecendo, zombando de toda uma cidade. Um deboche inaceitável para o povo alagoano, mas não uma novidade. Nogueira só reproduz o cinismo da Braskem, escolhido como estratégia de publicidade e autopromoção para lucrar com o desastre socioambiental que causou e foi o maior do mundo em área urbana. Pior do que fracassar e não reconhecer a crise corporativa, é se orgulhar do desastre provocado! Uma indignidade com os alagoanos à qual repudiamos com todas as nossas forças.
Senador Renan Calheiros (MDB)

Nós repudiamos essa declaração, que por si só representa outro crime, que é o silenciamento das vítimas. A Braskem vem nos massacrando todos os dias; nós somos violentados por ela todos os dias, quando ela tenta apagar nossa existência e viola os direitos individuais e coletivos dos seus afetados. Nós estamos morrendo todos os dias porque os danos causados por ela à população e ao ambiente são irreversíveis.
Neirivane Nunes, representante da Movimento Unificado de Vítimas da Braskem

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