CE espera decisão da família para remover restos mortais de Castello Branco
O governo do Ceará está em fase avançada de negociação com a família do general Humberto Castello Branco para que ela indique para onde devem ser levados os restos mortais do primeiro presidente da ditadura militar (1964-1967) e de sua esposa, Argentina Vianna.
Os restos mortais hoje estão em um mausoléu no Palácio da Abolição, sede do executivo estadual e da residência oficial do governador.
A decisão de retirar de lá os restos mortais do ditador foi anunciada em setembro do ano passado pelo governador Elmano Freitas (PT). Em dezembro, ele reiterou a "missão", como disse, durante celebração pelos 44 anos da lei da Anistia.
A Secretaria da Cultura, junto à Secretaria de Direitos Humanos, tem a missão de garantir que, no Palácio da Abolição, não ficará mais o mausoléu de quem apoiou a ditadura
Elmano Freitas (PT), governador do Ceará
Família aceitou remoção
A secretária da Cultura do Ceará, Luísa Cela, afirma que o projeto já foi apresentado à família, que não refutou a ideia de remoção dos restos mortais.
Entretanto, os quatro netos do militar que têm poder de decisão ainda não indicaram o novo destino.
As conversas têm ocorrido e sido amistosas. Eles não se opuseram à remoção, só pediram um detalhamento da intenção do governo. Estamos dando tempo para eles indicarem o local, porque sabemos que é uma questão complexa.
Luísa Cela, secretária da Cultura do Ceará
O UOL procurou Helena Alvim Castello Branco, neta de Castelo Branco e representante indicada pela família para tratar com o governo. Ela informou que a família não quer se manifestar e que só a secretária de Cultura daria informações.
Cela afirma que, na última conversa, realizada neste mês, a família indicou que a decisão sobre o local deve ocorrer "nos próximos dias".
Museu da liberdade
O governo do Ceará quer transformar o prédio onde hoje fica o mausoléu em um museu da liberdade, para contar a história da luta pela abolição da escravidão no estado —onde ela ocorreu quatro anos antes do que no restante do país (leia mais abaixo).
O monumento e o mausoléu estão em um prédio de arquitetura moderna e arrojada: um prisma alongado e suspenso de 30 metros sob um espelho d'água. A câmara funerária foi colocada na extremidade final do prédio.
A Secretaria de Cultura já iniciou a fase de pesquisas e curadoria e tem projeto pronto com investimento previsto de R$ 2 milhões para instalação e prazo de um ano para começar a funcionar.
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Luísa Cela
Prédio hoje está sem uso e fechado ao público
O Palácio da Abolição, em Fortaleza, foi inaugurado em julho de 1970. Dois anos depois, recebeu os restos mortais de Castello Branco e sua esposa.
Em 17 de maio de 2004, o palácio foi tombado pelo estado.
Formado por quatro edifícios de uma área total de aproximadamente 4.000 metros quadrados, o prédio onde fica o mausoléu está sem uso há mais de duas décadas, sem sequer estar aberto a visitação pública.
No início dos anos 2000, a família já havia solicitado o acervo. Só estão os restos mortais permaneceram lá. O prédio não tem uso nenhum, também por isso temos o projeto de ressignificação.
Luísa Cela
1º presidente da ditadura morreu em acidente de avião
Castello Branco foi um dos principais articuladores do golpe de 1964 e, por isso, acabou indicado para ser o primeiro presidente da era militar, que perdurou por 21 anos no Brasil.
Ele morreu em um acidente aéreo no dia 18 de julho de 1967, após o avião que o levava ser tocado por uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) enquanto se preparava para pousar, caindo em seguida.
Luta abolicionista no Ceará
O Ceará se orgulha de ser o estado que primeiro aboliu a escravidão no país, quatro anos antes da Lei Áurea, assinada em 1888 pela princesa Isabel.
A luta começou com o movimento de jangadeiros, em janeiro de 1881, quando eles se recusaram a transportar escravos de e para navios negreiros, dando fim ao tráfico na província.
O primeiro ato pelo fim da escravidão ocorreu em 1º de janeiro de 1883, na Vila do Acarape, atual município de Redenção. Um ato realizado em frente à igreja Matriz marcou a entrega de cartas de alforria para 116 escravos daquela região.
No dia 25 de março de 1884, o estado então aboliu completamente a escravidão. A data magna do Ceará foi instituída como feriado estadual a partir de 2011.
O movimento foi liderado por um personagem histórico, Francisco José do Nascimento, o Dragão do Mar, que dá nome a um centro cultural em Fortaleza.
A luta cearense inspirou outros movimentos abolicionistas pelo país.
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