Carlos Madeiro

Carlos Madeiro

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Reportagem

AL: Homem que matou ex-companheira com 30 facadas no rosto vai a júri hoje

Oito anos após matar a ex-companheira dentro do carro dela, o bacharel em direito Arnóbio Cavalcanti vai ser julgado hoje pelo Tribunal do Júri da 7ª Vara Criminal da Capital.

A professora Joana de Oliveira Mendes, 34, foi morta com 32 facadas - sendo 30 no rosto - em 5 de outubro de 2016, no bairro do Poço, em Maceió.

Quando soube da morte, pensei logo que tinha sido atacada no rosto. Ele tinha uma obsessão muito grande pela aparência dela. Inclusive, ele tinha uma tatuagem do rosto dela na perna.
Julia Mendes, irmã de Joana

Arnóbio confessou o crime, e a defesa vai pedir redução da pena alegando que ele tinha problema na tireoide e, por isso, tinha "compreensão reduzida do que é proibido ou não." (Leia mais abaixo)

À época do crime, ele acumulava quatro queixas por agressão (uma contra Joana e outras três de duas ex-companheiras).

O crime

Para atrair Joana, Arnóbio afirmou que queria apresentar uma proposta de pagamento de pensão para o filho e prometeu assinar os documentos da separação definitiva do casal. Ele entrou no carro dela alegando que queria conversar, mas passou a desferir as facadas. Arnóbio foi preso no dia seguinte ao crime.

A brutalidade do crime chamou a atenção e o caixão de Joana não pode ser aberto no velório porque o rosto estava desfigurado,

Eu já atuei em vários casos violentos contra mulher, mas em decorrência do tráfico de drogas, todavia este é o primeiro caso de feminicídio em que o seu autor agiu com tamanha crueldade e analgesia (insensibilidade) moral.
Antônio Vilas Boas, promotor do caso

Continua após a publicidade

O promotor diz que vai pedir condenação máxima pelo crime, e para isso vai sustentar a tese de acusação com três pilares.

Primeiro ele usou da dissimulação para atrair a vítima. A segunda qualificadora foi o meio cruel utilizado, que infligiu à vítima sofrimento desnecessário e incomum. Por fim, estamos diante de um caso de feminicídio perpetrado contra mulher por razões de sexo feminino, dentro do contexto de violência doméstica e familiar.
Antônio Vilas Boas

Joana Mendes
Joana Mendes Imagem: Arquivo pessoal

Relação conturbada

A irmã de Joana conta que eles se relacionaram, entre idas e vindas, por cerca de 3 anos e tiveram um filho —à época do crime com apenas 2 anos e 3 meses. Eles estavam separados havia cerca de um mês.

Foi um relacionamento bastante conturbado. Eles não chegaram a formalizar um casamento, e ela estava separada dele havia uns três meses e tinha sinalizado pretensão de morar em outro estado para conseguir manter essa separação, porque ele perseguia ela em todos os locais, como a creche do filho ou na atividade física que ela fazia.
Julia Mendes

Continua após a publicidade

Após a prisão, Arnóbio ficou detido por mais de seis anos, mas foi libertado em junho de 2023, após o STJ entender que havia "excesso de prazo para a formação definitiva da culpa."

Entretanto, ele foi preso novamente em dezembro, a pedido do MP, que alegou que o laudo psiquiátrico apresentado por "está sob suspeita, podendo ter cometido os crimes de fraude processual, falsidade ideológica e corrupção ativa." Foi solicitada a abertura de inquérito policial para investigar o caso.

Defesa quer reduzir pena

O advogado responsável pela defesa de Arnóbio, Jacob Filho, afirmou que não vai contestar a autoria do crime, mas vai pleitear uma redução de pena.

Arnóbio Cavalcanti, que matou a ex-companheira com 30 facadas no rosto
Arnóbio Cavalcanti, que matou a ex-companheira com 30 facadas no rosto Imagem: Divulgação

Para isso, ele vai apresentar aos jurados a condição médica de Arnóbio, que seria uma doença na tireoide, que desencadeou uma série de outros problemas de saúde.

Continua após a publicidade

Um desses problemas é glandular, que faz com que neurotransmissores não transmitam corretamente as informações. Isso impede de entender de forma clara tudo que acontece.
Jacob Filho

Para reduzir a pena, ele cita que há um laudo médico anexado ao processo que atestou que Arnóbio deve ter uma semi-imputabilidade, já que "ele tinha uma compreensão reduzida do que é proibido ou não."

Arnóbio já tinha a doença, fazia uso de fármaco e, naquele momento, segundo o relatório, não tinha conhecimento pleno do que estava fazendo.
Jacob Filho

Caso os jurados aceitem essa tese, Arnóbio terá direito a uma redução de pena pelo crime de 1/3 a 2/3.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes