Indígena é morto pela PM com tiro na cabeça em confronto em MS
Um indígena Guarani-Kaiowá foi morto com um tiro na cabeça nesta quarta-feira (18) durante confronto com PM na Fazenda Barra, município Antônio João (MS). A informação foi dada pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), que cita ainda que uma mulher também teria sido atingida na perna. A Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) confirma a morte.
De acordo com nota da entidade, a morte de Neri Guarani Kaiowá, 18, ocorreu na TI (Terra Indígena) Nhanderu Marangatu durante um ataque realizado dentro da área de retomada dos indígenas. Os barracos montados no local também foram destruídos, segundo o Cimi.
Em nota, o governo de Mato Grosso do Sul informou que "o óbito ocorreu depois de um confronto e troca de tiros com a Polícia Militar em uma região rural da cidade, na fronteira com o Paraguai."
O local é alvo de tensão há anos, que se acentuou no começo de agosto com ataque a povos locais logo após a saída da Força Nacional da área.
O assassinato
A ação teria começado ainda na madrugada desta quarta e seguiu pela manhã. Segundo relato dos povos locais, a Força Nacional não estava na área.
Ainda de acordo com nota do Cimi, policiais teriam mexido no corpo do jovem morto, o que gerou revolta.
A Polícia Militar arrastou o corpo de Neri para um pedaço de mata. A ação dos policiais gerou revolta entre os indígenas, que passaram a avançar para o local em que o corpo foi levado. Novos confrontos se estabeleceram, mas os policiais seguiram com a decisão de afastar o corpo dos Guarani e Kaiowá.
Cimi, em nota
Em nota, a Funai informou que já acionou a Procuradoria Federal Especializada para "adotar todas as medidas legais cabíveis e está comprometida em garantir que essa violência cesse imediatamente e que os responsáveis por esses crimes sejam rigorosamente punidos."
"O conflito também tem sido monitorado por meio da CR-PP (Coordenação Regional em Ponta Porã). Diante da gravidade dos fatos, a Fundação está preparando nova atuação perante o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3), a fim de se garantir a proteção da comunidade indígena", diz o órgão.
A Fundação reitera que tais atos são inaceitáveis e que está mobilizando todos os esforços para salvaguardar os direitos e a segurança dos povos indígenas da região. A Funai segue firme no compromisso de garantir os direitos e a segurança dos povos indígenas, reafirmando a urgência de medidas para interromper a violência e proteger a Terra Indígena Nhanderu Marangatu.
Funai
Ainda na noite desta terça (17), indígenas publicaram vídeos em que denunciavam a iminência da agressão.
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Quero receberA região do ataque, diz o Cimi, é a mesma onde os indígenas receberam, na sexta-feira (13), uma missão de direitos humanos organizada pelo Coletivo de Solidariedade e Compromisso aos Povos Guarani.
Governador cobra explicações
Em nota, o governador Eduardo Riedel (PSDB) diz que realizou uma reunião com integrantes da segurança pública para "esclarecimentos".
Também na nota do governo, o secretário estadual de Segurança Pública, Antônio Carlos Videira, afirma que os policiais militares que estão no local (100 homens) "cumprem ordem da Justiça Federal para manter a ordem e segurança na Fazenda Barra, assim como permitir o ir e vir das pessoas entre a rodovia e a sede da fazenda."
O conflito na região se arrasta há anos, no entanto, a situação se acirrou nos últimos dias. Além da disputa por terra, também foi apurado pela inteligência policial que há interesses de facções criminosas relacionadas ao tráfico de drogas, já que há diversas plantações de maconha próximas à fazenda, do lado paraguaio, pois a região está na fronteira entre os dois países.
Nota do governo
O governo de MS diz ainda que foram apreendidas armas de fogo com o grupo de indígenas, "que tentava invadir a propriedade e todo este material será coletado para formação de um relatório que será entregue em Brasília."
Tensão na área
Na quinta-feira, o Cimi denunciou que a TI Nhanderu Marangatu foi alvo de um ataque, em que três indígenas foram feridas pela PM, sendo duas delas com marcas de bala de borracha.
A região é marcada, há anos, por um conflito envolvendo indígenas e fazendeiros da região. Eles têm um processo de demarcação paralisado desde 2011 e acabam sendo atacados por seguranças armados em território já reconhecido pela Funai, mas que continua dominado por fazendeiros.
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