Seca recorde cria campo com gramado no rio Negro
Em Manaus, um largo campo gramado tomou conta de parte das margens do rio Negro, que enfrenta a sua pior seca em 121 anos de medições.
No mês passado, o rio teve a maior baixa de sua história, com leito a 12,11 metros entre os dias 9 e 12, segundo medições do Porto de Manaus. A partir do dia 13, o nível voltou a subir ao longo de nove dias, chegando a 12,5 metros. Desde o dia 24, no entanto, o nível voltou a baixar.
Nesta segunda-feira (4), o rio baixou mais um centímetro e atingiu 12,17 metros, apenas seis centímetros a mais que a mínima registrada. Para efeito de comparação, no dia 4 de setembro, a cota do rio estava em 19,01 metros. Há manauaras visitam o local para presenciar o fenômeno.
Ciclo natural
O nascimento da grama no leito seco do rio faz parte de um ciclo natural de um ambiente de planície de inundação, diz Leandro Sousa, biólogo e professor da UFPA (Universidade Federal do Pará). "Essa área está sendo colonizada pelas gramíneas que normalmente já crescem nas margens dos rio".
Durante a cheia, diz o biologo, a fauna e flora terrestre se adaptam ao ambiente alagado. "A fauna migra, as plantas podem suportar o alagamento ou mesmo morrer, dependendo da espécie", conta.
Quando as águas baixam, uma planície se expõe ao sol, com muitos nutrientes --são as planícies férteis, comuns em vários rios. Muitas plantas são adaptadas para crescer rapidamente neste período de seca, especialmente gramíneas, afirma o professor. No passado, não foi vista a mesma vegetação porque a seca durou menos tempo.
O que é anormal esse ano é a condição de seca extrema, deixando o leito do rio exposto por mais tempo Leandro Sousa, biólogo e professor da UFPA
Por causa da seca, praia está interditada há quase dois meses
A Prefeitura de Manaus anunciou, na sexta-feira (1º), o pagamento de auxílio de R$ 3 mil aos permissionários da praia da Ponta Negra, que está interditada para banho desde o dia 17 de setembro, por causa da seca. Ao todo, 28 permissionários vão receber o auxílio.
À época, o rio estava com cota de 15,77 metros —23 centímetros a menos que o mínimo seguro para banho. Não há previsão para a liberação do local.
A previsão para o esse mês ainda é de de chuvas abaixo da média, afirma Ana Paula Cunha, pesquisadora do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) Secas. "A situação dos últimos dois meses mostra que, apesar da precipitação dentro da média em algumas áreas, a seca persiste e é classificada como de moderada a severa", afirma a pesquisadora.
O período de seca (até 18 meses em alguns municípios) foi prolongado e a recuperação dos níveis hídricos não é imediata. A normalização da disponibilidade hídrica exige tempo para que o solo e os reservatórios se recarreguem.
Ana Paula Cunha
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