Carlos Madeiro

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Reportagem

MP: Padre comprou imóvel de luxo com verba desviada e pôs em nome de bebê

A Justiça da Paraíba recebeu uma denúncia e tornou réu o padre paraibano Egídio de Carvalho Neto, 57.

Ele será julgado por desvio de verba, ocultação de bens e lavagem de dinheiro na compra de um apartamento vizinho ao mar de João Pessoa, registrado em nome de um bebê, em dezembro de 2022. À época, criança tinha 1 ano e 11 meses. O imóvel está avaliado hoje em mais de R$ 700 mil.

A denúncia foi feita pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado) do MPPB (Ministério Público da Paraíba) no último dia 23 e foi aceita na data seguinte pelo juiz José Guedes Cavalcante Neto, da 4ª Vara Criminal da Capital.

A coluna não conseguiu localizar o padre, que está em prisão domiciliar desde abril por tratar uma doença grave. Egídio está sem advogado nesse caso. Na decisão, o juiz solicita que, caso ele não apresente recurso no prazo, passe a ser defendido pela Defensoria Pública do Estado.

Padre foi preso em outubro de 2023

A descoberta do suposto esquema veio durante as investigações da Operação Indignus, que apura o desvio de recursos públicos e recebimento de propina de instituições de caridade que o padre coordenava na Paraíba.

Egídio responde a diversas ações na Justiça da época em que chefiava três entidades ligadas à Igreja Católica, entre 2013 e 2023: Hospital Padre Zé, Instituto São José e Ação Social Arquidiocesana.

Ele foi afastado dos cargos pelo Arcebispado e de suas funções eclesiásticas em outubro de 2023, quando foi preso na primeira operação da polícia e as denúncias de irregularidades foram divulgadas.

O padre Egídio é suspeito de desviar recursos para comprar imóveis, bebidas, viagens e um carro de luxo. Os valores eram retirados de doação de comida a pessoas pobres e do custeio do Hospital Padre Zé, que atende 18 mil pacientes por ano pelo SUS. (Leia mais abaixo)

Padre Egídio é investigado por uma série de denúncias de desvio de verbas
Padre Egídio é investigado por uma série de denúncias de desvio de verbas Imagem: Facebook
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Como a doação do imóvel aconteceu

Os R$ 480 mil usados para comprar o apartamento vieram "por meio de práticas criminosas durante a gestão dos projetos e atividades" das entidades, de acordo com Gaeco. O apartamento fica no 4º andar de um prédio em Cabo Branco, bairro à beira-mar da capital paraibana e com um dos maiores valores por metro quadrado do estado.

O imóvel, segundo a investigação, é incompatível com o patrimônio do padre. Os rendimentos que Egídio declarou em 2022 apontam para um total de R$ 238,5 mil, sem contar descontos de Previdência e impostos. O único bem registrado em seu nome, à época, era um imóvel declarado de R$ 85 mil.

Todo o processo burocrático ocorreu de forma rápida, o que chamou a atenção dos investigadores. A escritura de compra e venda foi lavrada em cartório no dia 27 de julho de 2022, e a doação do imóvel para o menor já estava concluída em 22 de dezembro do mesmo ano.

O ato final, nitidamente buscando finalizar o procedimento antes do término do ano calendário 2022 (31 de dezembro de 2022), [com] o intuito de ocultar a transação imobiliária supra, mormente a fonte de seu custeio (compra do imóvel e pagamento das despesas tributárias envolvidas).
Denúncia do Gaeco

A criança, segundo a apuração, não possui parentesco com Egídio, o que indica que ela foi usada apenas para ocultar o bem do seu patrimônio. Para justificar a doação, diz a investigação, Egídio alegou ter um "profundo carinho e afeto pela criança", de quem afirma ser seu padrinho; mas o Gaeco alega que não confirmou esse vínculo.

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Fachada do prédio onde o padre Egídio tinha apartamento, em João Pessoa
Fachada do prédio onde o padre Egídio tinha apartamento, em João Pessoa Imagem: Divulgação

Suspeitas contra o padre

A suspeita é que o esquema que seria chefiado pelo padre tenha desviado cerca de R$ 140 milhões. O valor teria sido usado para pagar uma série de serviços e bens, como 29 imóveis —alguns de luxo, como apartamentos, adegas e obras de arte.

Carros e cristais também estariam entre as aquisições. Até a faculdade de medicina do sobrinho dele, em São Paulo, com mensalidade de R$ 13 mil, teria sido paga com a verba.

Todos os imóveis de propriedade de Egídio possuíam adornos luxuosos, tais como obras de arte, artes sacras, cristais, eletrodomésticos, equipamentos domésticos, peças de vestuários e acessórios no geral.
MP-PB

Condomínio de luxo na praia do Cabo Branco, em João Pessoa, onde o padre teria comprado cobertura
Condomínio de luxo na praia do Cabo Branco, em João Pessoa, onde o padre teria comprado cobertura Imagem: Divulgação

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