Juiz que viu calado promotor xingar advogada de cadela é punido pelo CNJ
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O plenário do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) decidiu, em sessão nesta terça-feira (11), punir com uma censura o juiz Carlos Henrique Jardim da Silva por omissão durante ofensas feitas por um promotor a uma advogada em júri popular realizado em Manaus em setembro de 2023.
Durante o julgamento, Walber Luís do Nascimento compara a uma cadela a advogada criminalista Catharina Estrella e ainda diz que isso é uma "ofensa" ao animal. O julgamento ocorreu na 3ª Vara do Tribunal do Júri do Amazonas, no momento da réplica da acusação.
O juiz não é um item de decoração, uma árvore, algo estanque que só observa o que está acontecendo.
Conselheira Renata Gil, relatora
A decisão do CNJ foi dada por unanimidade, mas como o juiz está aposentado por invalidez, não deve ter efeito prático.
A censura é uma pena intermediária e que serve como advertência à pessoa punida e, com isso, ele deixa de ser primária em eventuais novos julgamentos disciplinares.
O CNJ informou que a punição será anotada em sua ficha funcional, mas confirmou que ela só terá efeito prático se ou quando o magistrado voltar às suas atividades. O órgão também vai oficiar o CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) sobre a decisão.
A coluna fez contato com o advogado do o juiz, mas não recebeu retorno. A matéria será atualizada em caso de novidades.

Entenda o relatório sobre o juiz
Segundo a reclamação disciplinar, durante o julgamento, o juiz viu, e não interrompeu ou repreendeu, o promotor pelas falas misóginas.
O relatório final apontou que Carlos infringiu a Lei Orgânica da Magistratura, o Código de Ética da Magistratura e o protocolo para julgamento com perspectiva de gênero.
"O protocolo deve ser aplicado por toda magistratura e por todo sistema de justiça. Não é possível que ainda estejamos discutindo essa questão dessa maneira", disse a relatora.
Durante o julgamento, a fala do promotor provocou indignação.
Se tem uma característica que o cachorro tem, Dra. Catharina, é lealdade. Eles são leais, são puros, são sinceros, são verdadeiros. E, no quesito lealdade e me referindo especificamente a vossa excelência, comparar a vossa excelência com uma cadela é muito ofensivo, mas não a vossa excelência, a cadela.
Walber Luís do Nascimento, promotor de Justiça
Em um vídeo publicado nas redes sociais do presidente da OAB, Catharina diz o juiz não fez "nada para impedir. "Hoje eu fui ofendida no meu trabalho, enquanto advogada. Os juízes não fizeram nada para impedir. Então, aqui a classe unida buscando respeito para que não torne a acontecer com qualquer outra advogada. Eu realmente não precisava passar por isso no exercício da minha profissão", lamentou.
Nas redes sociais, Walber Nascimento destacou que tem 32 anos de carreira como promotor de Justiça e que "nunca foi demandado por ter ofendido ou destratado qualquer colega advogado". "Não vou me curvar a tentativas, seja de quem for, de denegrir a minha conduta profissional", escreveu.
A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Amazonas repudiou as falas à época, enquanto a Associação Amazonense do Ministério Público defendeu e disse que a atuação dele foi "firme, urbana e técnica."
56 comentários
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Andre Ricardo Abichabki Andreoli
Tá certo o juiz foi vaso, tá aposentado, beleza, mas o promotor esse sim tem que tomar uma punição além de simples censura!!
Bruno Dalmeida Gomes dos Santos
É um escárnio o corporativismo das instituições, mormente da associação dos fiscais da lei que, na realidade, ao não censurar a conduta de seu associado Promotor de Justiça, acaba reforçando esses comportamentos absolutamente incompatíveis com o exercício da Justiça. Uma vergonha.
Antonio Jose Pereira Pinto
Qualquer punição a juiz nunca tem resultado prático no Brasil de tudo errado.