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Carolina Brígido

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Elogios de bolsonaristas a Zanin fazem parte de jogo ensaiado de bastidor

O advogado Cristiano Zanin Martins, indicado por Lula ao STF - Diego Vara/Reuters
O advogado Cristiano Zanin Martins, indicado por Lula ao STF Imagem: Diego Vara/Reuters

Colunista do UOL

17/06/2023 04h00

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De repente, Cristiano Zanin virou unanimidade. Representantes de todos os espectros da política e a nata do Judiciário vieram à tona para elogiar o escolhido de Lula para o STF (Supremo Tribunal Federal). Advogados bolsonaristas, parlamentares da direita, ministros das cortes de Brasília e integrantes do governo concordam — ao menos publicamente — que o advogado é o melhor nome para ocupar a cadeira vazia da principal corte do país.

Ainda há quem se espante diante da declaração da advogada Karina Kufa, que defende Jair Bolsonaro em processos judiciais: "Do ponto de vista da Constituição, não vejo problema nenhum. Ele atende aos requisitos. Isso não fere o princípio da impessoalidade, absolutamente nada", declarou à Folha de São Paulo sobre a escolha de Lula.

Não será surpresa se, daqui até o dia da posse, os elogios aumentarem. Nas indicações passadas para o STF, o roteiro foi o mesmo: quando o nome do cotado para a vaga vaza, chovem críticas de todos os lados — em especial, de quem está interessado em assumir o cargo ou de quem apoia um candidato diferente.

Passada a indicação, com a escolha do presidente já sacramentada, as críticas rapidamente se transformam em elogios. Ou, no máximo, em ataques mais brandos. Porque, afinal, não há mais para onde fugir: o escolhido será ministro do STF e estará entre os 11 juízes mais poderosos do país.

Comprar briga com um ministro do Supremo não vale a pena. Especialmente no caso de quem ocupa cargo com foro especial no Supremo. De forma direta: por que cultivar indisposição com um juiz que, no futuro, pode te julgar?

No caso dos advogados, a lógica é a mesma. Aos que atuam no STF e no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), criticar o futuro juiz que poderá julgar uma causa de sua autoria pode ser um tiro no pé.

Entre ministros do STF, segue o mesmo enredo. Logo que Lula anunciou o nome de Zanin, os futuros colegas, de lavajatistas a garantistas, derramaram elogios ao advogado. Afinal, ninguém quer criar um ambiente hostil ao novo colega em um ambiente de trabalho tão restrito.

A cada nova indicação do Supremo, critica-se o clima de "já ganhou", em que a vitória do indicado na votação da CCJ do Senado e, depois, no plenário, é dada como certa de antemão. Diz-se que o Senado não cumpre devidamente o dever de questionar a indicação do presidente e aprova quem quer que seja o candidato à vaga.

De fato, tirando os vetos aos cinco escolhidos pelo presidente Floriano Peixoto nos idos de 1894, nenhum indicado ao STF foi barrado pelo Senado.

Em um evento da revista Piauí ocorrido na terça-feira (13), o ministro Alexandre de Moraes esclareceu o que é elementar: nenhum presidente da República vai indicar ao Supremo alguém que corra o risco de ser reprovado pelos senadores.

Segundo Moraes, recentemente alguns nomes foram cogitados por presidentes para o Supremo. As intenções teriam sido abortadas antes mesmo de serem anunciadas em público, por alerta de líderes no Senado. Nesse cenário, a sabatina vira um jogo de cartas marcadas nos bastidores.

A despeito do aparente contrassenso, um grupo de bolsonaristas tem trabalhado pela aprovação de Zanin. Ajudar o advogado de Lula seria uma estratégia para reerguer a ponte de aliados de Bolsonaro com o STF, implodida no governo passado.

Estão com esse ânimo o ex-assessor especial da Presidência da República, o advogado José Vicente Santini, e o senador e ex-ministro da Pesca de Bolsonaro, Jorge Seif Júnior (PL-SC). Os dois estiveram em um jantar com Zanin na semana passada. Em outra frente, o ministro do STF André Mendonça, nomeado por Bolsonaro, também tem apoiado Zanin a vencer resistências no Senado — em especial, da bancada evangélica.

Na última quinta-feira (15), Zanin foi recebido pelo senador Marcos Pontes (PL-SP), um dos mais fiéis remanescentes políticos do bolsonarismo. Em uma das poucas críticas ouvidas ao indicado ao longo da semana, o astronauta limitou-se a dizer que "é um problema" a indicação do ex-advogado de Lula. E fez logo uma ressalva: "Estou sempre aberto a conversar".