Carolina Brígido

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Novo na política, Lewandowski precisará de traquejo para encarar Congresso

Ao longo do ano em que esteve à frente do Ministério da Justiça, Flavio Dino desfilou sua verve política nas audiências da Câmara dos Deputados para as quais foi convocado. Atacado pela oposição, costumava responder de forma enfática.

Dos muitos bate-bocas, alguns renderam memes. Chegou a dizer que era integrante dos Vingadores, em resposta a Marcos do Val (Podemos-ES), que se apresenta como membro da Swat.

Embora tenha comparecido ao Congresso dezena de vezes para prestar esclarecimentos aos parlamentares, Dino deixou de atender a 47 pedidos de convocação de deputados, como revelou a Folha de S.Paulo.

Ricardo Lewandowski assumirá a pasta oficialmente no dia 1º de fevereiro. Como as convocações são pessoais, o novo ministro da Justiça não herdará esses pedidos cujo alvo era Dino. No entanto, deputados da oposição se articulam para apresentar convocações a Lewandowski assim que ele for empossado no cargo.

Dino e Lewandowski vieram da magistratura, mas a trajetória de ambos foi diferente. Dino deixou a toga em 2006 para trilhar caminho na política. Depois de passar pelo governo do Maranhão e pelo Congresso, retornará à vida de juiz em 22 de fevereiro, como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). Vai precisar adotar comportamento mais discreto para se enquadrar nas exigências da nova função.

Já Lewandowski terá de desenvolver mais habilidades políticas para se enquadrar nas exigências da nova função. O ministro foi advogado até 1990, quando se tornou juiz do Tribunal de Alçada Criminal do Estado de São Paulo. Foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça paulista e, depois, nomeado ministro do STF.

No ano passado, quando se aposentou, costumava dizer a quem perguntasse que queria uma vida tranquila para se dedicar aos cinco netos. Desistiu e voltou para a advocacia. Um dos contratos assinados foi com a J&F. Produziu parecer para a empresa usar na disputa bilionária contra a Papel Excellence, em torno da propriedade da Eldorado Papel e Celulose.

O que deputados querem saber?

Deputados da oposição estão animados para pedir explicações a Lewandowski sobre a relação com os irmãos Batista, donos da J&F. O processo no qual ele atuou tramita no TJ-SP, o mesmo onde foi desembargador por nove anos.

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Assessoria de Comunicação do ministro afirmou que foi elaborado um parecer jurídico, além do "acompanhamento pontual de uma ação anulatória, oriunda de arbitragem, em trâmite no Tribunal de Justiça de São Paulo, dentro do pleno exercício profissional da advocacia". Explicou também que o contrato já foi interrompido.

Lewandowski também deve ser chamado para explicar medidas de combate ao crime organizado — muito embora o novo ministro ainda não tenha oficialmente traçado essas medidas.

Como ministro da Justiça, ele pode ser obrigado a comparecer à Câmara dos Deputados. Como ministro do STF, seria apenas convidado. Se não quisesse ir, não precisaria.

Assessores do ministro apostam que ele não será alvo de tantas convocações. Como não é político, não colecionaria tantos adversários quanto Flávio Dino. Ainda assim, se tiver que comparecer ao Congresso, a expectativa é que sua performance seja menos polêmica. Não haverá, por exemplo, menção a personagens da Marvel.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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