Após assassinato de João Alberto no supermercado, Bolsonaro cita Pelé
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No Dia da Consciência Negra o presidente do Brasil imaginou que seria oportuno publicar no Twitter uma menção a Pelé. Na cabeça conturbada de Jair Bolsonaro, aproveitar a foto em que o maior jogador de futebol de todos os tempos aparece ofertando-lhe uma camisa do Santos autografada seria oportuno para marcar a data.
O que se vê na postagem, porém, não é homenagem aos negros ou mesmo ao ex-atleta. A foto mostra o contrário. É uma homenagem ao presidente, que, narcisista, a exibe vaidosamente. "Obrigado Pelé. Bom dia a todos", é o comentário seco que acompanha a imagem.
Bolsonaro e os que o cercam devem ter imaginado que o rito protocolar para a data estava cumprido e poderiam, enfim, voltar a se preocupar com assuntos importantes.
O presidente não deu um pio sobre o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, praticado ontem por seguranças brancos do supermercado Carrefour, no Rio Grande do Sul. As imagens do homem negro subjugado sendo espancado das mais diferentes formas circulou na internet e emocionou os brasileiros.
Parece, no entanto, não ter emocionado Jair Bolsonaro.
Se estivesse consternado, em vez de tuitar sobre Pelé o presidente trataria do que aconteceu no supermercado gaúcho. O fato carrega simbolismo trágico: um cidadão negro morto a socos e pontapés na véspera do Dia da Consciência Negra diz muito sobre o Brasil.
Mas o homem que está na Presidência da República passou ao largo desse assunto.
Nada que surpreenda. Bolsonaro parece ser uma figura desprovida de empatia, confirma isso a cada vez que fala em público.
Enquanto o país chora vítimas da pandemia de coronavírus, ele considera "frouxos" ou "maricas" os que se preocupam com o problema.
No auge das queimadas da Amazônia e Pantanal, culpou os indígenas e caboclos, na verdade as grandes vítimas do incêndio.
Só se apieda mesmo dos filhos, alvos de investigações da Polícia Federal por vários motivos, que vão de acusação de rachadinha a patrocínio de milícias digitais. A esses, Bolsonaro se empenha em ajudar.
Apesar dessa reconhecida indiferença pelo sofrimento alheio, impressiona que o presidente do país não demonstre qualquer emoção com o episódio. Nem com as cenas bárbaras de espancamento, nem com o relato da esposa de João, Milena, que ouvia o marido gritar a todo o momento, em vão: "Me ajuda!".
O ocupante do Palácio do Planalto, que avalia os quilombolas em arrobas, demonstrou mais uma vez que não tem nenhuma consciência da situação do negro no Brasil.
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