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Pastora acredita que ataques a Campanha da Fraternidade têm fundo político
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Pouco mais de um mês antes do lançamento da Campanha da Fraternidade Ecumênica, marcado para 28 de março, a pastora luterana Romi Bencke passou a ser alvo de ataques nas redes sociais. Secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs, ela foi criticada em várias lives realizadas pelo Centro Dom Bosco, entidade católica ultraconservadora.
O motivo da discordância são as diretrizes da campanha de 2021, que tem como título "Fraternidade e diálogo: compromisso de amor". Para os católicos conservadores, temas como combate ao feminicídio, prevenção à violência contra pessoas LGBTQI+ e incentivo à preservação ambiental são ditados por "esquerdistas revolucionários" e por isso não devem ser debatidos nas igrejas.
Para Romi, a campanha de difamação tem motivação que nada tem a ver com a religião. "Avalio que esses ataques têm muita relação com o pedido de impeachment que a gente protocolou na Câmara algumas semanas atrás", diz a pastora, que foi uma das que esteve em Brasília para protocolar o documento que pede o impedimento do presidente Jair Bolsonaro. A inciativa foi de um grupo de 380 líderes católicos e evangélicos.
Nessa entrevista à coluna, ela diz como interpreta a polêmica em torno da iniciativa ecumênica que, ironicamente, tem como objetivo promover o diálogo:
UOL - A sra. continua recebendo ataques por causa da Campanha da Fraternidade Ecumênica?
Romi Bencke - Os ataques maiores aconteceram na semana passada, quando esse Centro Dom Bosco fez lives falando sobre mim e sobre meus posicionamentos. Foram bastante agressivos e intolerantes. Da metade da semana passada em diante eles se acalmaram.
Avalio que esses ataques têm muita relação com o pedido de impeachment que a gente protocolou na Câmara algumas semanas atrás. Começaram exatamente uma semana depois desse protocolo.
A gente está trabalhando esse texto-base da campanha pelo menos desde o mês de outubro. Até então todas as reações que tivemos foram positivas. Porque a campanha acontece mais no âmbito das igrejas. Somente depois do pedido de impeachment começaram os ataques, me colocando no centro, com comentários bem pejorativos mesmo.
Quais foram as principais alegações do Centro Dom Bosco para os ataques?
Um dos pontos é o tema da violência contra pessoas LGBTQI+. Eles criticam usando o argumento de que nós queremos fazer com que as igrejas acolham pessoas LGBTQI+ a qualquer custo. Quando, na verdade, o que a gente coloca é a violência que essa população sofre e para a qual ninguém pode fechar os olhos. Falamos que não se pode negar essa violência, que é preciso falar a respeito.
Outro tema que eles abordam é a negação do conceito de feminicídio. Dizem que homens morrem mais que as mulheres, que estamos ignorando isso, não levam em conta que as mulheres morrem pelo simples fato de ser mulher.
Há também um tópico da campanha que fala criticamente da política ambiental do atual governo e eles ficam irritados com isso.
É uma tendência negacionista: nega os conceitos que chamam atenção para as desigualdades, para a ciência e cria uma pseudopolarização. Então, aparentemente é divergência de conteúdo religioso, mas no fundo eles têm relação com a agenda política.
Esses ataques atrapalharam a organização da campanha?
Nós já tínhamos mobilizado comunidades pelo país inteiro para o tema desse ano, que é diálogo. Eles conseguiram desmobilizar vários grupos, que agora estamos tendo que mobilizar de novo. Eles têm colocado em algumas cidades do país outdoors contra a campanha, dizendo que foi elaborada por uma pastora abortista, que no caso sou eu. O que não é verdade.
A campanha segue. Participei de alguns grupos que tiveram medo de ataques. Em alguns lugares onde há um acirramento entre esses grupos negacionistas e essas agendas pró-vacinas, eu evito ir. Mas não se pode impedir que esses temas sejam debatidos. Ninguém pode ser contrário ao diálogo, é uma insanidade.
Quanto aos ataques, nós temos uma Constituição Federal e estamos avaliando juridicamente o que pode ser passível de processo.
Como vê o fato de que esse tipo de ataque violento à Campanha da Fraternidade venha de um grupo que tem como base a religião?
A pergunta que se faz é o que eles ganham com isso. O que os motiva a fazer esse tipo de campanha? Porque para qualquer tradição religiosa o diálogo e o comprometimento com o outro, a dimensão que a gente fala de amor ao próximo, são princípios fundamentais.
Tudo o que eles fazem, essas campanhas diversionistas, esses ataques, principalmente a mulheres, qual o interesse real?
Eles não estão nessa controvérsia por causa de uma Campanha da Fraternidade Ecumênica cujo tema é diálogo, compromisso de amor. Um tema que não deveria ter controvérsia alguma, nem para a pessoa religiosa, nem para a pessoa ateia, nem para ninguém. Um tema que não justifica esses ataques
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