Topo

Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Gleisi Hoffmann: "Nada paga a dor causada a Lula. STF tem que julgar Moro"

A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT -  Pedro Ladeira - 22.out.2018/Folhapress
A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT Imagem: Pedro Ladeira - 22.out.2018/Folhapress

Colunista do UOL

08/03/2021 20h20

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), falou com Luiz Inácio Lula da Silva logo após a divulgação da decisão do ministro Edson Fachin que anula as condenações do ex-presidente pela Lava Jato e o torna elegível. Segundo ela, Lula recebeu a notícia com serenidade e acha que representa o reconhecimento da ilegalidade do processo contra ele. O ex-presidente diz, no entanto, que o Supremo não pode abrir mão de julgar a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro.

Um sentimento semelhante ao de Gleisi. "Nada paga isso ao Lula a humilhação, a dor que foi causada à família dele, a perda do neto, a dona Marisa, tudo que aconteceu", recorda a deputada, nessa entrevista à coluna.

Para a presidente do PT, a parcialidade de Moro foi criminosa. "Causou toda essa injustiça a Lula e também foi um dos causadores do desastre que estamos vivendo no Brasil hoje. Ele tem que responder por isso"

UOL - Como a sra. recebeu a decisão do ministro Edson Fachin?

Gleisi Hoffmann - Essa alegação da incompetência do juízo foi a primeira que a defesa fez em 2016, que a Justiça federal do Paraná não tinha competência para processar e julgar Lula. Havia processos que eles estavam chamando para si que não tinham nada a ver com os ilícitos na Petrobras.

A vara de Curitiba era preventa para julgar tudo que era relacionado ao que eles chamavam de desvios da Lava Jato e o próprio Moro, na sentença que deu sobre o triplex, em determinado momento fala que aquele julgamento não tem nada a ver com desvios da Petrobras. Deixou claro isso. O advogado Cristiano Zanin recorreu em cima disso.

É lamentável que demore cinco anos para se reconhecer que o juízo não era competente. Ele reconheceu a ilegalidade inicial do processo. Em cima dessa ilegalidade se cometeram todas as barbaridades que se pode praticar em um processo penal: cerceamento de defesa, abuso de autoridade, provas fabricadas, tudo que foi feito e que veio a conhecimento pelas mensagens da Operação Spoofing.

Inclusive prenderam Lula e o deixaram 580 dias preso, sem ter sido julgado com um processo justo. Nada paga ao Lula essa humilhação, a dor que foi causada à família dele, a perda do neto, a dona Marisa, tudo que aconteceu. Também humilhação à nossa militância, à vigília que ficou lá em Curitiba por 580 dias, que também sofreu violência.

Mas essa não é uma decisão para ser comemorada pelos petistas?

É certo que é um divisor de águas turvas. O início do movimento para se fazer justiça. O mérito dessa sentença é devolver ao Lula os direitos e a cidadania que lhe foram roubados, o que inclusive o impediu de ser candidato em 2018 e levou Bolsonaro à Presidência da República.

E quanto ao julgamento da parcialidade do ex-juiz Sergio Moro?

O que nós esperamos é que essa decisão não tire da Justiça o dever que ela tem de julgar a parcialidade de Moro. Ele com sua parcialidade foi criminoso e causou toda essa injustiça a Lula e também foi um dos causadores do desastre que estamos vivendo no Brasil hoje. Ele tem que responder por isso.

Se foi uma decisão do Fachin para salvar a Lava Jato, salvando Moro da suspeição, não pode ser recebida assim pelo Supremo. Moro tem que ser julgado.

A sra. falou com o ex-presidente Lula logo após a divulgação da decisão de Fachin. Como ele reagiu?

Lula recebeu de forma serena, achou bom porque reconhece a nulidade, portanto a ilegalidade desde o início do processo, e abre possibilidade de ele ter direito ao devido processo legal. Mas ele está muito cauteloso porque pensa da mesma forma, que Moro tem que ser julgado. Ele vai fazer um pronunciamento ou dar uma coletiva, talvez amanhã.

É uma decisão para ser comemorada, o reconhecimento do que nós sempre apontamos: a ilegalidade que gerou todas as barbaridades. Óbvio que isso é muito importante. A recuperação dos direitos plenos de Lula é fundamental para a democracia brasileira e para o resgate da credibilidade da Justiça.