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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Depósitos do 'Bolsolão' chamam atenção do MP para o presidente

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido)  - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

19/03/2021 10h24

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O valor não chega a ser alto: R$ 1.115. Apesar disso, os seis depósitos que funcionários do gabinete do então deputado federal Jair Bolsonaro fizeram em 2008 na conta da ex-cunhada dele, Andréa Siqueira Valle, são muito importantes. Podem indicar a gênese do desvio de recursos que anos depois seria reproduzido por Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio.

A movimentação bancária foi revelada pela jornalista Juliana Dal Piva, colunista do UOL, e consta do material anexado na investigação do Ministério Público do Rio. Quando recebeu os depósitos, Andréa era funcionária do gabinete do vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho de Jair. Até dois anos antes, Andréa trabalhava no gabinete do patriarca da família, em Brasília.

Como é característica do clã e todos que o cercam, os seis depósitos foram feitos em dinheiro vivo.

A circulação de cédulas entre os personagens do Bolsolão é estranhíssima. Como mostrou a reportagem publicada pelo UOL no domingo, os extratos de quatro integrantes do gabinete deo deputado Jair Bolsonaro na Câmara revelaram saques em dinheiro de R$ R$ 551 mil, nada menos que 72% dos vencimentos.

Agora, esse envio de dinheiro dos funcionários do pai deputado para os funcionários do filho vereador torna tudo ainda mais estranho. Certamente aguçou a curiosidade dos integrantes do MP.

Como se sabe, Jair Bolsonaro não pode ser condenado por atos praticados antes de assumir a Presidência da República. Por enquanto, só os filhos Flávio e Carlos estão na mira do MP.

Eleito empunhando a bandeira da luta contra a corrupção, o presidente jogou o discurso no lixo e faz de tudo para tentar livrar Flávio, o filho mais enrolado. Houve até reunião no Palácio do Planalto entre advogadas de defesa e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, em que Bolsonaro pediu ajuda para corroborar a tese do filho.

A preocupação com o rebento tem também o tempero da autopreservação. O presidente sabe muito bem que ao fim do mandato poderá ser convocado a contar o que falta saber sobre o esquema do Bolsolão. Por isso, enquanto é o manda-chuva, não custa nada prevenir.