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No pico da pandemia, Bolsonaro vai à TV gabar-se da vacinação que não faz
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Com fisionomia tensa, testa franzida e olhos siderados mirando o texto que leu com dificuldade, Jair Bolsonaro surgiu em rede nacional de rádio e TV na noite em que a pandemia de covid-19 chegou ao seu ápice no Brasil. Foram 3.158 mortes registradas em 24h. O presidente não deu qualquer orientação aos brasileiros, não incentivou o distanciamento social, nem defendeu o uso de máscaras.
Por incrível que pareça, Bolsonaro falou à população para gabar-se da péssima política de combate à pandemia empreendida por seu governo.
Jogou ao vento o punhado de frases desvairadas que costuma repetir diariamente quando fala à sua claque, no cercadinho do Palácio da Alvorada ou em viagens pelo Brasil.
"Em nenhum momento o governo deixou de tomar medidas importantes, tanto para combater o coronavírus, como para combater o caos na economia", disse Bolsonaro, o mesmo que desdenhou por meses da compra da vacina e que agora acha suficiente um auxílio emergencial de R$ 150 na pandemia.
Voltou a se vangloriar de que o Brasil é o quinto país no mundo em número de pessoas vacinadas, fingindo ignorar que até agora a imunização atingiu menos de 7% da população. Se a compra desses medicamentos fosse consumada há seis meses, quando os primeiros fabricantes procuraram o governo, o país estaria hoje em cenário bem diferente da tragédia atual.
Mentiu descaradamente: "Sempre afirmei que adotaríamos qualquer vacina, desde que aprovada pela Anvisa e assim foi feito". Ninguém esquece quantas vezes Bolsonaro negou que faria a aquisição de imunizantes ou desestimulou a vacinação.
Disse que interferiu pessoalmente junto à Pfizer para comprar cem milhões de doses. Outra manipulação dos fatos: foi o próprio presidente o maior empecilho para que o acordo não tivesse sido fechado antes. A negociação só foi possível após a intervenção do Congresso, que modificou a legislação para que o governo possa se responsabilizar por eventuais efeitos adversos das vacinas.
A falta de senso de urgência, que em meio à maior pandemia da história pode acarretar a morte de milhares de pessoas, ficou patente. "Ao final do ano teremos alcançado mais de 500 milhões de doses para vacinar toda a população".
Bolsonaro, por fim, mandou uma saudação às famílias das vítimas do coronavírus.
O saldo do pronunciamento, um punhado de platitudes inúteis, não justificou a mobilização de tantas emissoras do Brasil.
À população brasileira, atemorizada pela covid-19, o presidente não apresentou nada de concreto. A trilha sonora de panelas furiosas que se ouviu no momento em que Bolsonaro falava é a maior prova disso.
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