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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Alguém acredita que política ambiental mudará enquanto Salles for ministro?

Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles - Lucas Seixas/UOL
Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles Imagem: Lucas Seixas/UOL

Colunista do UOL

22/04/2021 04h00

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É certo que a política ambiental desastrosa do Brasil é ditada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro. Também se sabe que o vice-presidente Hamilton Mourão desarticulou o Conselho da Amazônia, alijando governadores da região e sociedade civil. Além disso, é pública a visão negacionista que os generais do governo têm da devastação da floresta.

Apesar da contribuição dessas várias autoridades para o trágico avanço da destruição do patrimônio natural brasileiro, é o ministro Ricardo Salles quem melhor personifica o descalabro.

Mesmo que o governo envie ao mundo centenas de mensagens dizendo que pretende adotar novo posicionamento sobre a questão, enquanto Salles estiver à frente da pasta do Meio Ambiente ninguém vai acreditar.

Por isso, o país chega à Cúpula do Clima com seu principal representante na área ambiental sob bombardeio de críticas vindas de vários pontos do planeta.

Salles, porém, não liga a mínima para isso.

Mostra-se suficientemente confortável para "exigir" que os países ricos interessados na questão mandem dólares e euros para seu ministério antes de apresentar resultados. Tentando ser criativo, fez o Brasil passar mais um vexame diante de representantes de governos estrangeiros, ao comparar o pais a um cachorro que olha faminto para os frangos de padaria. Acha engraçado ir às redes sociais para destilar preconceito contra indígenas que usam celular.

Ainda encontra tempo para discutir no Twitter com a cantora Anitta usando argumentos dignos de uma criança de 12 anos.

Enquanto Salles se diverte com brincadeiras de mau gosto, o cerco se fecha sobre ele.

Tornou-se o primeiro responsável pela pasta do Meio Ambiente a ser denunciado pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal por tentar impedir punição de madeireiros ilegais na Amazônia.

Em reuniões realizadas nos últimos dias, governadores, parlamentares e representantes da sociedade civil expressaram a embaixadores de países importantes o descontentamento com a atuação de Salles. Caetano chamou-o de antiministro.

Para culminar, cerca de 400 servidores do Ibama fizeram manifesto para denunciar a paralisação da fiscalização ambiental, causada pelas mudanças burocráticas no sistema introduzidas pelo titular da pasta.

Desde que assumiu, Salles cumpre à risca a tarefa que lhe delegaram de facilitar a atuação de madeireiros, garimpeiros e grileiros. Com a pandemia de covid-19, passou a colocar em prática o plano anunciado na célebre reunião ministerial de abril de 2020: aproveita que a atenção da mídia está voltada para a crise sanitária e faz "passar a boiada".

Por tudo isso, o Brasil e o mundo sabem que nada mudará enquanto Salles continuar onde está.

Não que a simples troca de ministro resolva a situação do meio ambiente. Esse governo provou em várias ocasiões que nada é tão ruim que não possa piorar.

Apesar disso, mais do que cartas de intenção ou pronunciamentos vazios, se Bolsonaro quer convencer alguém de que vai mudar de postura em relação aos desafios ambientais tem que começar por defenestrar Ricardo Salles.

O costelão servido aos convidados no encontro realizado na casa do ministro Fábio Faria, ontem, em Brasília, é o indício de que o preidente não fará isso.