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Números da pandemia no Rio comprovam péssimo trabalho dos governantes
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Anestesiada por tantas mazelas que a castigaram nos últimos anos — da corrupção milionária de ex-governadores à crise crônica da Segurança Pública —, a população fluminense parece não se dar conta do tamanho da tragédia que atualmente se abate sobre o Rio. Diante da gestão ineficaz do governador, de prefeitos e do governo federal, o estado mantém a segunda maior taxa de letalidade do país, atrás apenas do Amazonas.
A situação é tão grave que Amazonas e Rio têm taxas de mortalidade por coronavirus maiores que os dez países com mais óbitos no mundo. A comparação foi feita em relatório do Tribunal de Contas da União: Amazonas tem 286 mortes por 100 mil habitantes, o Rio 261 e em terceiro aparece República Tcheca, com 250.
O agravante no caso do Rio é que o estado tem a maior rede de hospitais públicos do país. A péssima administração dessas unidades e a insuficiência das medidas restritivas são a contribuição das autoridades para o agravamento da pandemia.
Receoso em desagradar o presidente Jair Bolsonaro, com quem é alinhado política e ideologicamente, o governador Cláudio Castro (PSC) adotou medidas brandas de restrição à circulação, apenas determinando pequena limitação de funcionamento para o comércio e toque de recolher na madrugada — cuja fiscalização é incipiente.
Preferiu apostar na abertura de novos leitos a tomar qualquer decisão que se pareça com um lockdown — como se uma coisa substituísse a outra. Há um mês prometeu criar 900 vagas em enfermarias e UTIs, mas até hoje cumpriu pouco mais da metade.
Mesmo para fazer as recomendações mais básicas à população, como evitar aglomeração e usar máscara, Castro perdeu credibilidade desde que foi divulgada em vídeo a sua festa de aniversário, cheia de gente aglomerada e sem máscara.
Para piorar, o governador fluminense criou há poucos dias um comitê científico que era desconhecido até pelo próprio secretário de Saúde. Alguns integrantes do grupo estão na vanguarda do atraso: ainda são adeptos do famigerado tratamento precoce, que as maiores instituições científicas do Brasil e do mundo disseram várias vezes não ser eficaz. Pelo contrário, pode representar risco de vida.
Também nesse item, Castro prefere seguir o estilo bolsonarista a se guiar pela ciência de qualidade, como se a situação do Rio permitisse perder tempo com tais bobagens.
O governo Bolsonaro, por sua vez, dá importante colaboração para piorar a situação desesperadora da população fluminense. Os hospitais federais têm nada menos que 700 leitos fechados, por falta de profissionais e equipamentos.
Nessa parceria macabra que leva ao desastre, vários prefeitos fluminenses têm sua responsabilidade. Na capital, Eduardo Paes também evita lockdown e não consegue colocar frota de coletivos suficiente para evitar a aglomeração dos passageiros.
Em dois dos municípios mais populosos da Região Metropolitana, Duque de Caxias e São Gonçalo, medidas restritivas são praticamente inexistentes e o comércio segue funcionando, com multidões a passear pelas calçadas.
Tal receita para o caos resulta em números dramáticos: ontem, o Rio registrou 338 óbitos. Difícil saber quantas, mas muitas dessas mortes ocorreram enquanto pacientes esperavam vaga em UTIs lotadas. Para piorar o quadro, kits de intubação estão em falta e mesmo doentes que conseguem se internar correm o risco de ter um tubo colocado na garganta sem dispor dos necessários sedativos para amenizar a dor.
A tragédia que acomete esses pacientes exige que autoridades federais, estaduais e municipais passem a ter sentido de urgência compatível com a situação.
Até porque os números da pandemia no estado mostram que, até aqui, o trabalho dos governantes fluminenses nesse momento crucial pode ser considerado péssimo.
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