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Chico Alves

REPORTAGEM

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Representante de delegados da PF: 'Quem investiga o governo sofre prejuízo'

O delegado Edvandir Felix de Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) - Divulgação
O delegado Edvandir Felix de Paiva, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

24/06/2021 04h00

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Dois dias antes de Ricardo Salles sair do governo, o delegado Franco Perazzoni, que comandou no mês passado uma operação contra o ex-ministro do Meio Ambiente, foi retirado da chefia da Delegacia de Repressão a Corrupção e Crimes Financeiros da Polícia Federal. Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, o significado da mudança é claro.

"Essa atitude passa um recado de que quem fizer investigação contra o governo será prejudicado na sua carreira", lamenta Paiva. "É algo que vai contra o que nós sempre lutamos, a liberdade de fazer as investigações".

Perazzoni acumulava a chefia da delegacia com a condução das investigações da Operação Akuanduba, que fez buscas e apreensões nos endereços de Salles e outros 21 investigados, entre servidores do ministério, dirigentes do Ibama e empresários do ramo madeireiro. O objetivo é apurar se o agora ex-ministro atuou para afrouxar o controle do Ibama sobre a exportação de madeira. Perazzoni estava cotado para ser diretor regional de combate ao crime organizado.

O delegado não só não se tornou diretor como perdeu a chefia da delegacia. "A leitura é que isso aconteceu por conta da investigação que ele está conduzindo", critica o presidente da ADPF. "O colega fica numa situação difícil e para os demais delegados passa o recado que nós estamos em uma época em que quem fizer investigação contra o governo terá prejuízo".

Para Paiva, o apoio institucional é importante, especialmente em investigações contra pessoas que têm poder político e econômico alto. "Se você não tem esse apoio, se a própria instituição sinaliza que você está sozinho, aí realmente a própria autonomia investigativa fica comprometida".

Na visão de Paiva, a imagem que o presidente defende, de opositor da corrupção, fica prejudicada por essas atitudes. "O governo passa recados há um bom tempo que toda vez que atinge aliados ou os seus próprios integrantes há retaliações", afirma.

Apesar de tudo, o representante dos delegados acredita que as investigações vão continuar, doa a quem doer.