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Escândalo do Vacinoduto aproxima impeachment de Bolsonaro do mundo real
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A maior bomba do mandato de Jair Bolsonaro foi detonada ontem, após quase seis horas de depoimento do deputado Luís Miranda (DEM-DF) à CPI da Covid.
"A senhora também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou", desabafou Miranda, em prantos, dirigindo-se à senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Sob muita pressão, ele finalmente acabara de revelar o nome que o presidente Jair Bolsonaro teria citado no dia 20 de março ao ouvir denúncia de corrupção na compra da vacina Covaxin.
Segundo Miranda, Bolsonaro demonstrou já ter conhecimento dos problemas e os atribuiu a Ricardo Barros.
"Vocês não sabem o que eu vou passar por apontar um presidente da República que todo mundo defende como uma pessoa correta, honesta, que sabe que tem algo errado, ele sabe o nome, ele sabe quem é e não faz nada por medo da pressão que ele pode levar do outro lado", criticou.
E completou: "Que presidente é esse que tem medo de quem está fazendo o errado, de quem desvia dinheiro público das pessoas morrendo com a porra desse covid?".
Assim que Miranda terminou essa fala, a hipótese de impeachment de Bolsonaro, até então longínqua, transformou-se em uma possibilidade bem mais próxima do mundo real.
Naquele momento, o presidente eleito com discurso de herói do combate à corrupção foi mostrado ao Brasil como alguém omisso diante de um esquema que desviaria milhões de dólares dos recursos que deveriam ser destinados à compra de vacina. Isso só não aconteceu porque um servidor público barrou a tramoia.
Mais: o Vacinoduto teria como operador o próprio líder do governo na Câmara.
O nome de Ricardo Barros já era comentado nos bastidores da CPI por vários motivos. Foi ele que criou a emenda que facilita a importação da vacina indiana, pressionou a Anvisa pela liberação do imunizante e era o ministro da Saúde em 2017, quando a Precisa, empresa que serviu de intermediária na negociação com o laboratório Bharat Biotech, embolsou R$ 20 milhões do governo sem nunca entregar os medicamentos contratados.
Em publicação no Twitter, Barros negou envolvimento em esquema ilícito.
Apesar de prometer tomar providências na reunião que teve no Palácio da Alvorada com o deputado Miranda e seu irmão, o herói que impediu que a maracutaia se consumasse, Bolsonaro nada fez.
No primeiro dia que o escândalo veio a público, mobilizou sua tropa de choque para atacar o denunciante. Em coletiva, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, anunciou com ferocidade que Miranda e seu irmão seriam investigados, sem citar qualquer providência contra os integrantes do esquema.
Somente ontem, pouco antes de a história ser destrinchada na CPI, Bolsonaro anunciou que enviaria o caso para a Polícia Federal.
Esse atraso de três meses para tomar a iniciativa faz a hipótese de prevaricação por parte do presidente tornar-se cada vez mais forte.
Acrescente-se a esse imbroglio o fato de que o Vacinoduto ocorre justamente no país que bate recordes mundiais de mortes na pandemia. Nesse cenário desolador, a gravidade do suposto crime é multiplicada por várias vezes.
Ao fim da sessão no Senado, os partidos de oposição e as redes sociais voltaram o foco para o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL). Apesar de repetir algumas vezes que não há motivo para impeachment de Bolsonaro, Lira sofrerá a partir de agora uma pressão bem maior para que acate um dos vários pedidos de impedimento do presidente.
É impossível prever se a CPI terá como consequência um processo de impeachment. Mas que essa hipótese está hoje muito mais viável do que estava na manhã de ontem, quanto a isso não há dúvida.
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