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Para Braga Netto, banda podre das Forças Armadas não pode ser criticada
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Diante da profusão de militares enredados nas tramas ligadas à investigação de um suposto esquema de corrupção na compra de vacinas, instalado no Ministério da Saúde, o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), desabafou: "Fazia muito tempo que o Brasil não via membros do lado podre das Forças Armadas envolvidos com falcatrua dentro do governo".
A observação de Omar Aziz não deixa dúvida: refere-se aos maus militares. O senador disse inclusive que a parte boa do Exército deveria estar envergonhada com esses que mancham sua história.
Difícil entender por quais tortuosos caminhos de interpretação de texto o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os comandantes das tropas concluíram que o presidente da CPI atacava as Forças Armadas de forma generalizada.
Talvez por estarem acostumados com a falsa ideia de que são moralmente superiores aos civis, boa parte dos militares não admite críticas — mesmo quando direcionadas aos fardados que cometem erros. Qualquer coisa que se pareça com isso é tomado como ofensa.
Como reação, Braga Netto divulgou nota em tom indignado — não com os militares citados na investigação, mas indignado com o próprio senador.
"Essa narrativa, afastada dos fatos, atinge as Forças Armadas de forma vil e leviana, tratando-se de uma acusação grave, infundada e, sobretudo, irresponsável", diz o ministro, no texto.
Desse modo, chegamos à situação anômala em que o ministro da Defesa e os comandantes não se importam se o coronel Elcio Franco negociou o absurdo contrato da vacina Covaxin, que foi oferecida por US$ 10 e empenhada por US$ 15.
Também não dão a mínima se o coronel Marcelo Blanco abriu uma empresa de representação de insumos de saúde um dia antes de intermediar encontros muito suspeitos para negociação de imunizantes.
E são indiferentes às movimentações de um tal coronel Guerra nas tratativas sobre compra da AstraZeneca através da empresa Davati.
Isso para não falar das interrogações acerca da atuação do próprio ex-ministro Eduardo Pazuello, um general da ativa.
Qualquer um que circule entre oficiais de alta patente sabe que boa parte deles — não todos — faz críticas implacáveis aos poderes Legislativo e Judiciário na mesma proporção em que são condescendentes consigo mesmos.
A nota é marcada por esse sentimento e isso explica em parte que a decantada credibilidade das Forças Armadas esteja em queda, como mostra pesquisa XP-Ipespe. Do índice de 70% de confiabilidade, em dezembro de 2018, desceram para 58%, em junho de 2021.
Fora de tom, o texto de Braga Netto deve ter deixado perplexos todos os que se preocupam com a boa reputação da caserna.
No fim da noite de ontem, Omar Aziz voltou a contextualizar sua fala e avisou ao ministro: não vai se intimidar.
Está certo.
Se alguém tem culpa pelo desgaste das Forças Armadas não é o senador amazonense, mas seus próprios comandantes, que nos últimos anos têm permitido a politização do oficialato.
Nesse momento, eles estão apenas colhendo o desgaste que plantaram. Omar Aziz nada tem a ver com isso.
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