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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O país em que a terceira via parece valer mais que a primeira ou a segunda

Urna eletrônica - Antonio Augusto/Ascom/TSE
Urna eletrônica Imagem: Antonio Augusto/Ascom/TSE

Colunista do UOL

25/07/2021 11h40

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É como se Vasco ou Flamengo tivessem que abrir mão de uma final de campeonato em favor do terceiro colocado. Digamos, o Madureira. Assim, dessa forma anômala, se dá a discussão em torno de uma possível terceira via que rivalize com os postulantes favoritos à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro.

Absurdamente, os defensores dessa alternativa culpam os líderes das pesquisas de intenção de voto por não permitirem que um outro candidato se aproxime para disputar a vaga. No exemplo do início do texto, imagine os comentaristas de futebol culpando Palmeiras e Atlético-MG, que estão à frente da tabela do Brasileirão, pelas derrotas dos times que estão em terceiro, quarto ou quinto lugares.

Assim como futebol é bola na rede, eleição é voto na urna. As pesquisas para 2022 mostram que até agora os preferidos dos eleitores são Lula e Bolsonaro.

Esse cenário pode mudar, claro. Mas a mudança, se acontecer, deve se dar pela decisão autônoma dos eleitores, não pelo capricho de alguns iluminados que querem impor sua vontade ao país.

O que não está dito claramente no debate sobre terceira via é que ele acontece pelo inconformismo de alguns setores com as preferências demonstradas até aqui pelo eleitorado brasileiro. O principal alvo da rejeição desses caciques é Lula.

Bolsonaro perdeu muito apoio pela desastrosa gestão que realiza, mas as lideranças evangélicas e boa parte dos militares resistem principalmente ao petista. Os primeiros, pelas mudanças que não querem ver no campo dos costumes, e os segundos ainda pela mágoa com a Comissão da Verdade.

Há temor de que uma possível vitória de Lula provoque reação de grupos radicais, algo capaz de aumentar a instabilidade institucional. Tal risco deve ser considerado, mas para buscar formas de resolver o problema, não para servir de pretexto à usurpação do direito de escolha do eleitor.

Se não conseguirmos garantir isso, estaremos demonstrando a nós mesmos e ao mundo que não somos uma democracia, como acreditávamos até pouco tempo.

Talvez até seja interessante que outro nome de presidenciável apareça com chance de chegar ao segundo turno. Sempre é bom dar ao eleitor mais uma opção de escolha. Mas somente se isso acontecer de maneira natural, não como resultado de alquimia política, alheia ao desejo da população.

Se o Madureira não consegue vencer seus jogos, Vasco e Flamengo não devem abrir mão de seus pontos no campeonato em favor do distante terceiro colocado.

Lula e Bolsonaro estão acumulando pontos ganhos. Se o tal candidato alternativo não consegue convencer o eleitorado, que responsabilidade os líderes das pesquisas têm sobre isso?

Lamentavelmente para alguns, as regras eleitorais em vigor ainda garantem a vitória para o candidato que chega em primeiro lugar, não em terceiro.