Topo

Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rio terá passaporte da vacina pela metade. Mesmo assim, Carluxo polemiza

Vacinação - iStock
Vacinação Imagem: iStock

Colunista do UOL

28/08/2021 13h34

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Se não vivêssemos nesses tempos em que é preciso explicar o óbvio, todos saberiam que a vacinação é uma providência coletiva. Não adianta imunizar apenas uma parcela da população, já que os vulneráveis mantêm o vírus em circulação. Todos devem se vacinar, pois. Ainda mais se estamos em meio a uma pandemia que causou quase 600 mil mortes no Brasil.

Como vivemos nesses tempos de repisar obviedades, governantes de vários países não viram outra alternativa a não ser criar um passaporte para fazer com que as pessoas se imunizem. Quem não estiver vacinado com as duas doses não pode entrar em vários estabelecimentos.

O prefeito de São Paulo ensaiou tomar essa providência, mas a reação de negacionistas o fez voltar atrás.

No Rio, o prefeito Eduardo Paes anunciou seu passaporte. A medida do alcaide carioca, porém, ficou no meio do caminho. É proteção pela metade.

O passaporte será exigido para quem quiser frequentar academias de ginástica, estádios e ginásios esportivos, cinemas, teatros, museus, galerias e exposições de arte, convenções, conferências e afins.

A exigência não vale, porém, para espaços como restaurantes, bares e shoppings.

Do jeito que está, uma parcela da população com renda mais baixa não terá no passaporte um incentivo para a vacinação. Mesmo que a exigência se estenda aos beneficiários do Cartão Família Carioca, espécie de Bolsa Família municipal, isso não representa mais que 50 mil famílias.

Se somarmos a isso o descontrole na aglomeração do transporte público, em que enormes contingentes de trabalhadores se apertam para compartilhar o mesmo oxigênio escasso e os mesmos perdigotos, podemos concluir que os mais pobres ainda estão desprotegidos.

Mas, obviamente, é melhor pouca proteção que nenhuma.

Mesmo diante dessa tentativa tímida de fazer os negligentes se vacinarem, os negacionistas marcam presença. O vereador Carlos Bolsonaro puxa a fila, anunciando que tomará "providências" contra o passaporte que, para ele, vai contra a Constituição.

No seu estilo descontraído, Eduardo Paes respondeu: ""Para facilitar o trabalho da assessoria, seguem as providências a serem tomadas: Providência nº 1: tomar a 1ª dose. Providência nº 2: tomar a 2ª dose!"

Esse debate insólito se desenrola no estado em que a variante delta está fazendo o maior estrago.

Diante de um passaporte meia-bomba, Carluxo faz questão de fazer seu showzinho. Cita a Constituição, mas se esquece que o mesmo artigo 5º que fala em liberdade cita também o direito à vida, que é colocada em risco por quem não se vacina.

O filho 02 do presidente segue a cartilha de Steve Bannon, segundo a qual o importante não é ter razão, mas criar confusão. Reproduz, assim, o negacionismo que se verifica nos estados Unidos e parte da Europa.

Mesmo que em plena pandemia isso represente colocar milhares de vidas em risco.

Não que a atitude surpreenda. Como se sabe, falta de empatia é marca da família.