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Chico Alves

REPORTAGEM

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Prefeito de Caxias adultera obra de Niemeyer e desaloja moradores de rua

Obra no Teatro R aul Cortez, em Caxias - Divulgação
Obra no Teatro R aul Cortez, em Caxias Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

23/09/2021 13h42

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A construção de uma parede de tijolos na rampa do Teatro Raul Cortez, na cidade fluminense de Duque de Caxias, está causando grande controvérsia. Além de descaracterizar o prédio, cujo projeto é de autoria do arquiteto Oscar Niemeyer, a intervenção vai desalojar moradores de rua que costumam ficar ali. O prefeito Washington Reis (MDB) alega que a obra está sendo feita para manutenção do teatro e aumento da segurança no local. Entidades do movimento social de Caxias classificam a ação como "higienista" e digna de um "apartheid social".

A controvérsia acontece na data em que o teatro completa 15 anos de sua inauguração. O projeto de Niemeyer é um dos principais destaques arquitetônicos da Baixada Fluminense e foi finalizado justamente na primeira passagem de Reis pela Prefeitura de Caxias.

O Fórum Popular de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua emitiu nota de repúdio, acusando a Prefeitura de "descaracterizar a arquitetura de um prédio projetado pelo renomado Oscar Niemeyer" e de lançar mão de "design hostil para excluir a população em situação de rua do espaço público".

A entidade chama a intervenção de "muro da vergonha", erguido para reforçar "preconceito contra a população em situação de rua".

Ouvido pela coluna, o prefeito Washington Reis alega que a intervenção é feita a título de manutenção, já que, segundo ele, o prédio está "sucateado". Outra alegação é que a obra serve para reforçar a segurança local. "Usuários de crack estão usando o lugar para guardar drogas e armas, eles ameaçam quem passa por ali", afirma Reis.

O prefeito diz que não houve qualquer alteração de estrutura e que convidou os sucessores de Niemeyer para fazerem a reforma, a quem daria preferência, mas eles não se interessaram.

Em entrevista à jornalista Isabela Aleixo, de O Globo, o bisneto do autor do projeto, Paulo Niemeyer, que também é um dos autores, afirmou que a intervenção não foi autorizada pela família e que a passarela é um elemento importante do prédio.