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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fixação dos Bolsonaros por armas e ilegalidades produz mais uma encrenca

Flávio Bolsonaro experimenta fuzil durante feira de armas, em 2020 - Reprodução/ Facebook
Flávio Bolsonaro experimenta fuzil durante feira de armas, em 2020 Imagem: Reprodução/ Facebook

Colunista do UOL

31/01/2022 14h27

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Integrantes da família de Jair Bolsonaro têm duas fixações estranhas: armas e afrontas à lei. Nesses dois temas o patriarca é um modelo e tanto e não há dúvida de que a prole tem a quem puxar.

Sem pensar nas consequências, o presidente destravou os limites de compra de armamentos e munições no país — as vendas de pistolas e fuzis se multiplicaram nos últimos anos. Junto com os filhos, frequenta assiduamente os stands de tiro e participa de reuniões de colecionadores de armas. Volta e meia se deixa fotografar portando algum trabuco.

Afrontas à lei são outro tipo de atividade familiar. Mais uma vez, Jair Bolsonaro dá o tom: divulga inquéritos sigilosos da Polícia Federal, descumpre decretos sanitários, desrespeita leis de trânsito e ofende as instituições do próprio país. Se tivéssemos uma Procuradoria-Geral da República digna do nome, já estaria respondendo na Justiça.

Os filhos desafiam a legislação de várias formas. O deputado Eduardo, o 03, é alvo de uma apuração preliminar da PGR por pagar em dinheiro vivo por dois imóveis na zona Sul do Rio e está incluído no inquérito sobre fake news, tocado pelo ministro Alexandre de Moares, do Supremo Tribunal Federal. Carlos, o 02, é investigado por rachadinha em seu gabinete de vereador carioca e também está no inquérito das informações falsas, do STF. Rachadinha também é, como se sabe, a principal acusação que pesa sobre o senador Flávio Bolsonaro. Até o 04, Jair Renan, está na mira da Justiça.

Mais velho dos filhos presidenciais, Flávio deu um passo além. Como mostra reportagem de Igor Mello e Eduardo Militão, publicada no UOL, o senador conseguiu juntar as duas fixações familiares em uma encrenca só. Conseguiu junto à Secretaria Nacional de Segurança Pública a liberação de R$ 3 milhões para compra de 500 fuzis da empresa americana Sig Sauer para a Polícia Civil do Rio. Especialistas acharam indícios de que a licitação das armas foi viciada e opinam que ela deveria ser anulada.

Como mostra a matéria, toda a fundamentação técnica da licitação foi feita pelo inspetor de polícia Manoel Hermida Lage. Curiosamente, ele é também instrutor do campo de tiro da Sig Sauer e participa de apresentações de armamentos para corporações policiais de outros estados, auxiliando nas vendas.

Fontes disseram aos jornalistas que Marcelo Costa, representante da Sig Sauer no Brasil, usa os nomes de Flávio e Eduardo Bolsonaro como forma de facilitar o trânsito em órgãos públicos. Flávio disse ao UOL que não autoriza que ninguém fale em seu nome.

As empresas concorrentes foram à Justiça para tentar anular a licitação.

Não se pode arriscar o resultado do embate.

De certo mesmo é que os Bolsonaros podem acrescentar ao seu cartel uma encrenca inédita.