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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

MBL e Kataguiri são novas encrencas na confusa pré-campanha de Moro

O ex-ministro Sergio Moro - Adriano Machado/Reuters
O ex-ministro Sergio Moro Imagem: Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

10/02/2022 11h00

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Quando, depois se muitas cobranças, o ex-juiz Sergio Moro finalmente revelou quanto recebeu da empresa americana Alvarez & Marsal, o fez em um vídeo ao lado do deputado Kim Kataguiri (DEM-SP). O objetivo era mobilizar as redes sociais do Movimento Brasil Livre (MBL), do qual Kataguiri é um dos expoentes, para limpar a barra de Moro.

A audiência do MBL nas plataformas virtuais e o discurso agressivo de seus integrantes foram os motivos que levaram o ex-juiz e seu partido, o Podemos, à parceria com o grupo para a campanha presidencial. Isso compensaria um pouco a falta de traquejo de Moro na comunicação.

Onze dias depois desse vídeo, Kim Kataguiri e o MBL viraram um problema para Moro.

Depois da lamentável participação no Flow Podcast em que defendeu a descriminalização do nazismo, o deputado recebeu uma enxurrada de críticas. Foi denunciado à Comissão de Ética da Câmara e obrigado a se retratar.

Qual a posição do pré-candidato Sergio Moro? Até agora não fez qualquer reparo público às declarações do aliado Kataguiri. Limitou-se a um tuite com platitudes do tipo "o nazismo é abominável e inaceitável" e "não há mais lugar no mundo para o ódio e a intolerância". Não citou nomes.

Quem criticou Kataguiri diretamente foi o senador Álvaro Dias, presidente do Podemos. Acabou sendo chamado de burro em uma postagem feita nas redes por Renan Santos, um dos cabeças do MBL. O xingamento foi apagado depois.

Enquanto tudo isso acontece, Moro, que vive exaltando a própria coragem na defesa da justiça, mantém silêncio sobre as declarações de Kataguiri sobre o nazismo.

Em outra encrenca do MBL, Renan Santos fez em vídeo uma brincadeira de mau gosto descrevendo a cena imaginária em que o jornalista Pedro Doria, a empresária e pesquisadora Michele Prado e o ex-ministro Christovam Buarque são atravessados por uma lança. Em tempos de discurso de ódio e incitação à violência política, a piada foi bastante criticada. A ideia de que o MBL, que em 2018 abusou das fake news e ofensas aos adversários, estivesse mais civilizado está caindo por terra.

Mais uma vez, Sergio Moro finge que não viu essa polêmica com os apoiadores de sua pré-candidatura a presidente.

O ex-juiz deve estar muito ocupado tentando achar um jeito de melhorar seu desempenho, já que os números das pesquisas de intenção de voto só fazem piorar. Para alguém em quem parte da imprensa depositava tantas expectativas, a performance de Moro tem sido pífia.

Na última pesquisa Genial/Quaest ele caiu 2 pontos e agora tem 7%. A rejeição, por sua vez, subiu 2%. O ex-juiz está empatado com Ciro Gomes, que também tem 7%, mas a rejeição do ex-governador cearense caiu 4 pontos. Lula continua liderando, com 45% e grandes chances de liquidar a fatura no 1° turno. Jair Bolsonaro tem 23%.

Para piorar, Moro descobriu que sua candidatura não é unanimidade dentro do Podemos. Chegou a ensaiar uma mudança de legenda, iria para o União Brasil. Mas descobriu também que no partido recém-criado ele está longe de ser unanimidade.

"Gostamos de Moro, mas não vamos embarcar em canoa furada", disse um dos caciques do União Brasil à coluna, reservadamente.

O ex-juiz vai ficar onde está.

Como se vê, as barbaridades ditas por Kim Kataguiri e as molecagens do MBL são apenas algumas encrencas a mais para Sergio Moro se preocupar em sua confusa pré-campanha.