Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
No Brasil bárbaro, crianças são mortas a tiros e o país não se comove
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
A semana começa como tantas outras: os brasileiros ocupados com o trabalho, a escola, os afazeres de casa. Nas ruas e nas redes sociais, os assuntos predominantes são o BBB, o futebol e as asneiras ditas e feitas por Jair Bolsonaro.
A rotina no Brasil transcorre de forma insuportavelmente normal. Nem parece que esse é o mesmo país onde, na quinta-feira (10), o menino Jonatas, de 9 anos, foi executado por sete jagunços que atacaram a casa de seu pai, Geovane da Silva Santos, presidente Associação dos Agricultores Familiares do município de Barreiros, na Zona da Mata de Pernambuco.
Primeiro, os homens encapuzados alvejaram Geovane, que sobreviveu. Em seguida, atiraram contra o filho do agricultor, que se escondia debaixo da cama com a mãe.
No local onde ocorreu o assassinato existe a ocupação de uma usina que faliu. Trabalhadores rurais formaram ali um povoado, que há anos vem sendo contestado pela empresa Agropecuária Mata Sul Ltda. Como informou a jornalista Alice de Souza, em reportagem publicada no site The Intercept Brasil, em 2020 essa empresa recebeu da Polícia Federal autorização para "funcionamento de serviço orgânico de segurança privada na(s) atividade(s) de Vigilância Patrimonial". Segundo a Comissão Pastoral da Terra, desde 2018 a Mata Sul tem feito ameaças aos moradores.
Não se sabe se o assassinato tem ligação com esses fatos.
O que se sabe é que uma criança de 9 anos foi executada a tiros.
Uma criança.
De 9 anos.
Foi executada a tiros.
Diante dessa tragédia, um país que não estivesse tão brutalizado teria agora as ruas apinhadas de cidadãos exigindo o esclarecimento do crime, a proteção dos agricultores de Barreiros.
Ao invés disso, o Brasil - este colunista incluído - toca a vida normalmente.
O estado de apatia não se instaurou hoje, vem de muito tempo. Desde quando crianças passaram a morrer por tiros de fuzil nas favelas do Rio, em meio a confrontos entre a polícia e o tráfico.
Nessas ocasiões, poucos além dos parentes e amigos das pequenas vítimas se mobilizaram para pedir justiça. Depois de alguns protestos, todos retomamos nossas rotinas e essas mortes caíram no esquecimento.
Há poucos dias, em local e circunstâncias diferentes, mais uma criança foi morta. Anestesiado pela brutalidade generalizada, até aqui o país demonstrou pela execução do pequeno Jonatas menos comoção do que seria esperado de uma sociedade civilizada.
Difícil dizer qual seria a resposta à altura para esse crime horrendo.
Seja qual for, a reação adequada certamente não é essa letargia que nos mantém inertes à frente das telas dos celulares, computadores e monitores de TV, pulando de tragédia em tragédia, com o coração apertado.
A vida de Jonatas - e de outras crianças brasileiras - vale muito mais que lamentações momentâneas, que no dia seguinte já terão ficado para trás.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.