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Chico Alves

REPORTAGEM

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'Postura do Itamaraty é vergonhosa', critica embaixador

Embaixador Paulo Roberto de Almeida - Reprodução/Facebook
Embaixador Paulo Roberto de Almeida Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

25/02/2022 11h47

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Com a experiência de 44 anos de serviço no serviço diplomático e aposentado desde desde o fim do ano passado, o embaixador Paulo Roberto Almeida se mostra bastante crítico quanto ao desempenho do Itamaraty na mais grave crise internacional das últimas décadas. Ele considera que o ministro das Relações Exteriores, Carlos França, está sendo humilhado pelo presidente Jair Bolsonaro na forma como lida com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"É uma situação difícil, Carlos França está na corda bamba, mas poderia encontrar uma maneira de dizer que o Itamaraty não é isso. Não o fez", comentou Almeida à coluna. "Está sendo submisso demais ao presidente".

Ainda no estágio anterior da crise, quando a Rússia reconheceu duas regiões ucranianas como repúblicas independentes, o representante brasileiro leu uma nota no Conselho de Segurança da ONU. "Ali, o Itamaraty, provavelmente orientado pela Presidência, trata o caso como se as duas partes fossem equivalentes, fala em 'preocupações legítimas de segurança de todos'", lembra o embaixador, que serviu nas embaixadas de Paris e de Washington, entre outros postos de destaque. "É uma coisa vergonhosa, nesse momento em que temos uma potência intimidando um outro Estado, fazendo atos ilegais".

Já na visita de Bolsonaro a Vladimir Putin, Almeida acredita que o Itamaraty alertou o presidente brasileiro de que o momento era inoportuno. Mas Bolsonaro "bateu o pé e foi".

"O chanceler não tem nenhuma autonomia. Bolsonaro constrange todos os seus ministros, o das Relações Exteriores é um deles", avalia o embaixador.

"No último episódio, Carlos França foi levado na live do presidente para contestar a fala do vice-presidente Hamilton Mourão, que tinha defendido reação armada. O chanceler não poderia dizer que não iria, ficou ali parado, do lado do presidente", recorda. "Está manchando a biografia".

O embaixador considera que a permanência do chanceler no cargo atende até mesmo o pedido dos diplomatas, que estão aliviados em ter à frente do ministério alguém muito melhor que o antecessor, Ernesto Araújo, que Almeida classifica como "um louco".

"Nesse desgoverno, o substituto sempre pode ser pior. Mas é triste que França não consiga colocar em prática a postura técnica do Itamaraty em uma questão tão crucial", lamenta.