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Bolsonaro fala em neutralidade mas justifica as ações de Putin
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Para terror dos diplomatas do Itamaraty, Jair Bolsonaro resolveu deixar de lado o jet ski com que desfila pelo Guarujá e dar entrevista ontem sobre a invasão da Rússia à Ucrânia. A preocupação era de que se repetisse a turbulência causada quando, ao visitar Vladimir Putin, disse ser solidário aos russos. Diplomacia, como se sabe, é um dos muitos assuntos que Bolsonaro não domina.
Em meia hora de respostas aos jornalistas, o presidente repetiu várias vezes que a posição do Brasil diante do conflito é de neutralidade. Essa decisão já é bastante questionável, tanto que a embaixadora ucraniana na ONU disse ao jornalista Jamil Chade, do UOL, quando perguntada sobre a postura brasileira: "Não há espaço para neutralidade na situação atual. Todos precisamos nos levantar para defender nossos princípios básicos".
Mas é ainda pior. Na entrevista, Bolsonaro mostrou que não está neutro. Várias vezes, ao descrever as circunstâncias do conflito, adotou a versão de Putin — em desacordo com o pronunciamento feito hoje por Ronaldo Costa Filho, o representante brasileiro na ONU..
Discordou de uma repórter que classificou a ofensiva do governo russo como massacre — apesar de ter causado centenas de mortes — e minimizou o ocorrido.
"Você está exagerando com a palavra massacre, não há interesse por parte de um chefe de Estado como o da Rússia de praticar um massacre onde quer que seja", disse Bolsonaro. "Ele está se empenhando ali em duas regiões do Sul da Ucrânia que, em referendo, mais de 90%, em média 90% da população quer se tornar independente, quer se aproximar da Rússia"
A repórter insistiu na ideia de massacre, falando do armamento pesado usado pelos russos. "Equipamento de guerra é pra matar, a gente sabe disso aí. E daí? Quer que eu faça o quê?", respondeu Bolsonaro, em replay de uma frase cruel que emitiu sobre a pandemia.
Adotou certo tom de ironia ao lembrar que o presidente da ucraniano, Volodomyr Zelensky, trabalhava com humor: "O povo da Ucrânia confiou a um comediante os destinos da nação"
Em outros trechos da entrevista, tratou com absurda naturalidade o intervencionismo russo, praticamente o justificando.
"Quase a totalidade da população ali, no referendo de há muito tempo, era favorável à sua independência. Essas questões são particulares, a própria Ucrânia nasceu de um referendo também. E nós aqui assistimos o desfecho desse embate. O que a Rússia quer é a independência dessas duas áreas", argumentou o inquilino do Palácio do Planalto.
Em sua linha de raciocínio trôpega, na mesma entrevista conseguiu enfiar temas como Marco Temporal, redução de IPVA e críticas ao distanciamento social na pandemia. Em meio a essa confusão mental, deixou claro que não defenderia sanções fortes à Rússia porque o país é fundamental vendedor de fertilizantes ao Brasil, um insumo básico para o agro.
Bolsonaro talvez tenha esquecido que há um ano criticou e inventou mentiras sobre a China, responsável pela tecnologia da primeira vacina contra o coronavirus usada no Brasil, sem se importar em colocar a ideologia à frente dos interesses comerciais do país — os chineses são o nosso principal parceiro comercial.
Além disso, ao evitar condenar de forma enérgica a invasão russa, ele colabora para isolar ainda mais o Brasil, que já estava bastante escanteado.
A simpatia de Bolsonaro pelo autocrata Putin é mais um capítulo no roteiro escrito por esse governo para transformar o Brasil em pária mundial.
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