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Chico Alves

REPORTAGEM

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Padre que vai celebrar casamento de Lula pede: 'Amai-vos e não armai-vos'

Dom Angélico e Lula - Ricardo Stuckert
Dom Angélico e Lula Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

18/05/2022 04h00

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Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a socióloga Rosângela da Silva, a Janja, estiverem hoje no altar para a cerimônia de casamento, terão à sua frente não apenas um padre, mas um amigo que conhece o petista há quase cinco décadas. Desde 1975, dom Angélico Sândalo Bernardino, bispo-emérito de Blumenau, esteve ao lado de Lula nos principais momentos de sua vida. Nas greves do ABC, nas posses como presidente da República, em dias dramáticos na prisão de Curitiba.

"Eu sou amigo do Lula", confirmou à coluna. "Nos conhecemos no tempo em que ele era metalúrgico, em São Bernardo, e eu era o bispo da pastoral do mundo do trabalho, aqui em São Paulo. Durante muitos anos nós cultivamos essa amizade".

Além da proximidade na vida pública, conquistou a confiança da família. "Eu fui o padre do batismo dos netos, do casamento dos filhos. Quando a Marisa (a segunda mulher de Lula, que morreu em 2017) estava no hospital, ele me pediu: 'será que não daria para você fazer uma oração por ela?'. Eu estive lá, fiz a unção dos enfermos". Foi também dom Angélico que oficiou o ato religioso no velório de Marisa, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos.

Depois de tantos dissabores experimentados pelo ex-presidente nos últimos anos, o religioso está feliz por presenciar o atual momento de alegria. "Esse pernambucano sempre foi de muita luta", elogia.

Sobre a importância do casamento, que será realizado em pleno ano tenso de campanha política, ele cita uma frase do papa Bento 16: "Eis aqui a revolução por Cristo, o amor". Mensagem que dom Angélico traduz de uma forma bastante adequada para o momento atual do país. "Amai-vos e não armai-vos", pede ele. "Faço votos que o amor seja a bandeira desse candidato a presidente".

Na entrevista, o bispo pede para não falar sobre a cerimônia, que é cercada de segredos, a ponto de os convidados só saberem ao certo o local e horário do casamento no dia de hoje, quando apontarem o celular para o QR Code impresso no convite. Garante que Lula vai se casar no religioso porque "é católico pra valer".

A preocupação social de dom Angélico o aproximou de políticos de diversos cargos e matizes ideológicos, do petista Lula a Mário Covas, ex-governador de São Paulo e fundador do PSDB. Não se furta de revelar a deputados, prefeitos e presidentes opiniões sobre temas importantes. "Na medida do possível, quando posso dou o meu palpite: façam do poder do voto um instrumento de promoção do bem comum, da paz, da justiça social", diz. "Brasil, pátria amada, como eu gosto desse país! Essa nação tem uma potencialidade enorme, mas é preciso que haja responsabilidade social".

Dom Angélico se preocupa com as seguidas ameaças ao estado de direito. "Tenho rezado para que o Brasil continue sendo um país democrático e que haja respeito ao resultado das eleições. Essa é a primeira preocupação minha", define. O religioso deseja que os protagonistas da campanha eleitoral desse ano deixem de lado ofensas, calúnias e mentiras. Especialmente no conteúdo veiculado "nesses moderníssimo meios de comunicação, muitas vezes instrumentos de muita mentira e muito ódio"

Ele lamenta que no julgamento de Lula tenha havido "muita mistura de interesses partidários" e que Dilma Rousseff tenha sofrido um golpe. "Digo isso independentemente de qualquer colorido político-partidário, que não é isso que me inspira", destaca o bispo.

Dedica a todos com quem conversa tratamento carinhoso, chama de "meu irmão". Diz ser um "velhinho de quase 90 anos" — tem 89 — com o coração aberto aos sofrimentos e alegrias da humanidade. Se aflige pela situação da Ucrânia, pelos milhões de desempregados em todo o país, pelo povo de rua de São Paulo. Mas também se alegra quando vê as pessoas em situações positivas.

"Por isso, estou louvando a Deus pelo amor, pelo casamento do Lula, que ele continue firme na sua família", deseja Dom Angélico, o responsável por consumar a união religiosa do amigo de muitas décadas com a socióloga Janja.