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Lula chama empresários para dançar, mas programa de governo define a música
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Depois de conversar com políticos e integrantes dos movimentos sociais, Lula, pré-candidato do PT à presidência, vai finalmente começar a se encontrar com o empresariado. Por enquanto, somente a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), e o deputado Alexandre Padilha (SP) tinham feito encontros presenciais com os empresários. Agora, como informa a jornalista Monica Bergamo, o próprio presidenciável vai para o bate-papo com a turma do dinheiro.
O momento escolhido é estratégico para Lula. A liderança nas pesquisas parece consolidada e, como se sabe, o favoritismo atrai simpatias.
Além disso, o PT divulgou há poucos dias as principais bases de suas propostas de governo. Algumas ideias, Lula já tinha antecipado nos discursos e outras eram previsíveis, levando-se em conta a prática dos governos petistas.
Estão lá menções à revisão da reforma trabalhista e ao fim do teto de gastos, assim como a promessa de fazer a reforma tributária que distribua melhor o peso dos impostos, para que aqueles que têm mais recursos paguem mais.
Mirando a "recuperação do poder de compra de trabalhadores e dos beneficiários de políticas previdenciárias e assistenciais", o petista promete valorizar o salário mínimo, que foi depreciado na gestão de Jair Bolsonaro. "Reduzir a volatilidade da moeda brasileira por meio da política cambial" é outra meta anunciada.
Quanto ao setor produtivo, a prévia do programa de governo petista afaga os grandes e os pequenos, da cidade e do campo. De um lado, prega a reindustrialização do país, enquanto defende a valorização do pequeno produtor.
Anuncia combate à grilagem, ao desmatamento, à invasão das terras indígenas e à emissão de carbono. Em contraste gritante com Bolsonaro, todas essas pautas ambientais voltam a ser valorizadas.
O texto dá a entender que uma eventual privatização da Eletrobras será revertida e descarta de maneira enfática a entrega da Petrobras para a iniciativa privada.
Enfim, é o PT sendo PT.
Por ser tão previsível, o programa foi criticado pelos adversários. Os mesmos que há quatro anos se mostravam entusiasmados com a chegada de Paulo Guedes ao Ministério da Economia, como se ele fosse o grande cérebro do liberalismo, e tratavam Bolsonaro como uma alternativa civilizada, hoje fazem careta para as propostas petistas.
Talvez imaginassem que Geraldo Alckmin (PSB) tivesse alguma influência sobre a plataforma, tornando-a um pouco mais tucana. É verdade que o texto ainda passará pelo crivo dos seis partidos aliados, que poderão acrescentar ou tirar trechos. Dificilmente, porém, haverá grande mudança.
É um típico programa petista. E não é ruim que seja assim.
Diante da bagunça generalizada que é o desgoverno de Bolsonaro, como se vê pelo destrambelhado projeto de redução de ICMS dos combustíveis, anunciado ontem (uma gambiarra sem pé nem cabeça), é bom que o setor produtivo do país possa sonhar com um presidente de quem sabe exatamente o que esperar.
Chegou a hora de Lula chamar os empresários para a dança. Mesmo que não concordem totalmente com a música escolhida, eles conhecem bem os acordes, o que facilita a coreografia.
Do jeito que está, com a orquestra desafinada e os passos desencontrados de Bolsonaro, o país não vai a lugar algum.
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