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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Por medo de derrota para Lula, Bolsonaro antecipa o roteiro golpista

Jair Bolsonaro - Gabriela Biló/Folhapress
Jair Bolsonaro Imagem: Gabriela Biló/Folhapress

Colunista do UOL

09/06/2022 04h00

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No cronograma anunciado pelo Centrão, a essa altura do campeonato Jair Bolsonaro já estaria fazendo Lula comer poeira nas pesquisas eleitorais. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, no início de maio, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez prognóstico otimista quanto ao embate entre Bolsonaro e o petista: "É uma expectativa que, pelas últimas pesquisas, ele (Bolsonaro) passe no final de maio ou junho".

Como se viu pelos últimos levantamentos de intenção de votos, Lira errou redondamente. Nas pesquisas mais confiáveis, a dianteira de Lula só faz aumentar.

A previsão do presidente da Câmara era baseada menos no conservadorismo que ele identificou na população brasileira, como teorizou na entrevista, e mais na força da máquina do governo, que liberou bilhões de reais aos aliados do Centrão para fazer subir o conceito de Bolsonaro junto ao eleitorado. Até agora, deu errado.

Ao que tudo indica, o próprio presidente da República acreditou na projeção de Lira e agora mostra-se perplexo ao constatar que as coisas estão longe de correr conforme o esperado.

A falta de soluções efetivas para os problemas gerais na economia, que fazem os brasileiros sentirem no bolso os efeitos da inflação galopante, fulmina o poder de compra e torna ineficazes itens importantes do pacote de bondades eleitorais, como o Auxílio Brasil de R$ 400.

O resultado é a retomada dos xingamentos aos ministros do Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, as ameaças de não cumprir decisões da corte e a convocação da segunda edição do 7 de setembro golpista, com manifestações ao estilo do que aconteceu no ano passado. Dessa vez, a convocação está sendo feita com três meses de antecedência.

A quatro meses do primeiro turno das eleições, Bolsonaro e seus apoiadores já não escondem o desespero. As ameaças de retirada de recursos por parte de clientes da XP, caso a instituição financeira divulgasse nova pesquisa ontem - na qual Lula também aparece com liderança folgada - são um recibo de que o Palácio do Planalto vive dias de pesadelo. A divulgação da pesquisa acabou sendo cancelada.
A perplexidade com a consolidação da liderança de Lula fez com que os planos golpistas fossem antecipados.

Nos últimos dias, Bolsonaro tem xingado mais, mentido mais e ameaçado mais as instituições.

A situação atual está longe de ser de normalidade democrática. A antecipação do golpismo bolsonarista poderá ter, porém, um benefício.

A depender de como as instituições lidarem com as bravatas presidenciais de agora, o Brasil poderá chegar às urnas em outubro com mais tranquilidade para escolher seus representantes.