Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Ministro da Defesa bolsonarista quer achar chifre em cabeça de burro
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Os antigos cunharam uma expressão adequada para aqueles que gastam tempo procurando problemas onde eles não existem: são os que querem achar chifre em cabeça de burro.
Os burros, como se sabe, não têm chifres. Mas há quem os procure com afinco e crie caso por isso.
O Brasil acompanha nos últimos tempos os movimentos de uma personalidade da República que turva o cenário político nacional ao conceber dificuldades imaginárias.
Paulo Sérgio Nogueira, o ministro da Defesa, está empenhado em tentar provar a vulnerabilidade das urnas eletrônicas a fraudes. Esse tipo de acessório é usado há 26 anos no processo eleitoral brasileiro e nunca houve nenhuma comprovação de maracutaia. Nada. Zero.
Apesar disso, Nogueira optou por seguir a linha ditada pelo presidente Jair Bolsonaro e seu antecessor, o general Braga Netto, de questionar ao infinito os procedimentos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Usa como pretexto o convite que recebeu do tribunal juntamente com outras entidades e instituições para participar de reuniões que tinham o objetivo de sugerir melhorias nas urnas.
Das 15 sugestões enviadas pelo ministério ao TSE, 10 acabaram aproveitadas. Apesar disso, Nogueira acha que as Forças Armadas foram desprestigiadas, insiste em mais questionamentos e prepara um sistema de auditoria paralelo para as eleições.
O ministro da Defesa finge ignorar o fato de que a Constituição não atribui às Forças Armadas o status de coordenadoras do processo eleitoral. Nesse front, o TSE é que manda.
O tribunal gentilmente convidou os militares a darem seus pitacos. Feito isso, deveriam voltar à sua rotina.
Mas Nogueira e outros fardados (nem todos) acham que só eles têm isenção para cuidar do processo eleitoral.
Logo o ministro da Defesa que no fim de semana distribuiu em um aplicativo de mensagens o artigo em que o general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva defende que uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição para presidente "será o desastre e a ruína moral da nação e de suas instituições".
Nogueira não parece achar imoral maracutaias como rachadinha com o salário de funcionários de gabinete; gasto bilionário do orçamento secreto, em que verbas são trocadas por apoio político; indicação presidencial de pastores de fora do serviço público para intermediar verbas do Ministério da Educação; ministro do Meio Ambiente acusado de parceria com contrabandistas de madeira; troca de delegados federais que investigavam crimes dos filhos do presidente; incentivo à sublevação armada por parte do chefe do Executivo (feito explicitamente na reunião ministerial de abril de 2020) e outros malfeitos de Jair Bolsonaro.
Para ele, que se acha imparcial, Lula é imoral. Não faz qualquer menção às imoralidades de Bolsonaro — é o comportamento típico de um bolsonarista.
Sendo assim, o ministro da Defesa continuará procurando chifre em cabeça de burro, para satisfazer o presidente.
Do jeito que vai, baseado em narrativas fictícias, poderá encontrar qualquer coisa, até um unicórnio.
A grande dúvida é saber quantos generais da ativa concordarão em acompanhá-lo na empreitada de criar para o país problemas que não existem.
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