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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Fraude na eleição não vem da urna eletrônica, mas da compra de votos

O presidente Jair Bolsonaro durante live - Reprodução/Facebook
O presidente Jair Bolsonaro durante live Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

13/08/2022 07h58

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"Acusem-nos do que você faz", é a máxima que Jair Bolsonaro e sua turma usam como estratégia desde o início do governo. Campeão de fake news, frequentemente acusa os adversários de mentir. Radical de direita, reclama da esquerda por radicalizar. Disseminador de discurso de ódio, diz que os oponentes são violentos.

O ápice dessa tática é o ataque à eleição. Enquanto denunciavam uma falsa possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas, sem apresentar nenhum resquício de prova, foram Bolsonaro e seus apoiadores que viciaram o processo eleitoral.

O governo e os governistas quebraram regras fundamentais, seja da Constituição ou do regimento do Congresso, para aprovar a PEC da Compra de Votos, uma iniciativa absurda que deu a Bolsonaro R$ 41 bilhões em benesses para distribuir a dois meses da eleição.

Também a redução artificial do preço dos combustíveis, ao custo do corte de recursos para estados e municípios, faz parte da estratégia.

Levantamentos recentes de intenção de voto mostram que em vários estados o presidente reduziu drasticamente a diferença que o separa de Luiz Inácio Lula da Silva, o líder das pesquisas. Os principais motivos apontados pelos especialistas para esse movimento: justamente a ampliação do Auxílio Brasil e do Vale Gás, a redução do preço dos combustíveis e medidas do tipo.

A ilegalidade que marca esse pacote de bondades é flagrante, desde a decretação de um estado de emergência sem que nenhuma nova circunstância grave tenha se abatido sobre o Brasil (a fome se tornou mais drástica há três anos, sem que o governo tenha tomado nenhuma providência) até o estupro da Lei Eleitoral.

Acuados pelos seguidos ataques do presidente da República e dos militares, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) assistem a tudo sem punir ninguém. Gastam todo o tempo em defender os ministros e as urnas eletrônicas, quando deveriam partir para o ataque aos criminosos que burlam as leis com fins eleitorais.

Também a oposição se acovardou e ajudou o governo a aprovar a PEC da Compra de Votos para não se tornar impopular.

O resultado é que a campanha para a eleição de outubro já está comprometida pela maracutaia parlamentar que dará a Bolsonaro e aos candidatos que o apoiam uma quantidade de votos muito maior do que teriam se as leis fossem obedecidas.

Enquanto ataca as urnas eletrônicas por falhas inexistentes, o presidente se beneficia da verdadeira fraude na eleição desse ano, praticada no Congresso, sob as vistas negligentes do Judiciário.

Se o Estado Democrático de Direito, cantado em verso e prosa nos manifestos divulgados em 11 de agosto, pressupõe o respeito às leis, talvez possamos concluir que, ao menos quanto ao processo eleitoral, vivemos sob estado de exceção.

E as urnas eletrônicas não têm nada a ver com isso.