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Sergio Moro, o falso herói que virou piada nacional
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Não faz muito tempo, Sergio Moro era cantado em verso e prosa como herói da luta contra a corrupção no país. A imprensa brasileira foi a principal culpada por esse status. Por medo de serem confundidos com petistas ou por pura cegueira momentânea, muitos jornalistas engoliram todas as barbaridades que o ex-juiz e seus parceiros, procuradores da Lava Jato, praticaram contra o devido processo legal.
Combinação de sentenças com o MPF, chantagem contra delatores, conduções coercitivas sem nenhum motivo, vazamento de informações, prisões sem provas e outras barbeiragens eram comuns na fase áurea de Moro, mas as críticas foram apenas pontuais. As exceções confirmam a regra.
Para muita gente, a atuação ilegal de Moro, Deltan Dallagnol e sua turma se justificou porque conseguiram a devolução aos cofres públicos de bilhões desviados da Petrobras. Bom lembrar: "fazer justiça" ao arrepio da legislação é a especialidade dos milicianos, que começaram sua empreitada matando bandidos em regiões pobres do Rio. Hoje, a mesma população que os exaltava é oprimida pela milícia. Quando se deixa a lei de lado, o caminho é sem volta.
Os tempos do Moro super-herói ficaram para trás, a série de matérias do site Intercept Brasil tornou incontestáveis os crimes que cometeu e o ex-juiz resolveu entrar para a política. Primeiro como ministro de Jair Bolsonaro - a quem ajudou a eleger quando colocou Lula na cadeia - e depois como candidato.
Na pele de postulante a um cargo eletivo, Moro entrou para o anedotário nacional. Motivos para gargalhada não faltam. Desde o lançamento da falida candidatura a presidente pelo Podemos — quando estrelou um vídeo como uma espécie de 007, caminhando pela Praça dos Três Poderes e foi apresentado como "Sergio, o Moro" —, até a atribulada transferência para o União Brasil, sob acusações de sua antiga legenda de que fez gastos indevidos. Passando, é claro, pela tentativa atrapalhada - e frustrada - de registrar domicílio eleitoral em São Paulo.
Agora, na corrida ao Senado pelo Paraná, filiado ao União Brasil, não se constrange de enfrentar seu antigo apoiador, Alvaro Dias. Na última pesquisa de intenção de votos, Dias aparecia na liderança, com 10 pontos à frente de Moro. Para tentar reverter o quadro, o ex-juiz se humilha, pedindo apoio a integrantes do governo Bolsonaro, o mesmo presidente que o desqualificou tantas vezes e que está às voltas com denúncias de corrupção.
O vexame aumentou ontem, quando o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná determinou busca e apreensão de material irregular de propaganda na casa do ex-juiz. Isso aconteceu porque o próprio Moro indicou o domicílio como endereço do comitê.
A juíza eleitoral concluiu que Moro tenta esconder o nome de seus suplentes na propaganda. Por isso, além de apreender material impresso, determinou a remoção de links das redes sociais e exigiu a regularização do material destinado à propaganda eleitoral gratuita na TV em 48 horas, sob pena de multa diária de R$ 5.000.
A reação do ex-herói nas redes sociais foi, mais uma vez, destrambelhada. "A retaliação do PT e do sistema da velha política foi sentida pela minha filha, hoje de manhã em Curitiba", escreveu ele no Twitter. Mas o que fazer, se o próprio candidato indicou a residência como comitê?
"Está clara a preocupação com o fraco desempenho do Lula e seus aliados", prosseguiu Moro. Faltou alguém de sua equipe informá-lo que o petista está liderando todas as pesquisas de intenção de voto.
O ponto alto de non sense foi quando acusou o PT de promover "uma diligência abusiva" em sua residência. Como qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre leis sabe, partidos não promovem diligências. Essa é uma prerrogativa da Justiça. O PT apenas acionou o TRE-PR questionando a propaganda irregular de Moro, e o pleito foi acolhido. Simples assim.
A cada passo, o ex-juiz age como neófito não apenas em política, mas também no trato com a legislação. Para alguém que até há pouco era visto como modelo para o Judiciário, isso é muito grave.
Não se sabe até que ponto Moro pretende ir em sua transição de magistrado a humorista. Mas, pelo jeito, parece não ter limite.
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