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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sucessão de escândalos passa a ser maior problema da campanha de Castro

Colunista do UOL

16/09/2022 12h17

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Tinha tudo para dar certo. Com dinheiro em caixa para distribuir benesses aos aliados, por conta da venda da Cedae, e à frente de polpudo fundo eleitoral, Cláudio Castro (PL) vinha tocando a campanha ao governo do Rio com tranquilidade. No horário da TV, vídeos bem produzidos apresentavam o candidato à população - já que, mesmo à frente do governo estadual, só recentemente passou a ser mais conhecido -, a máquina governamental garantiu apoio de mais de 80% dos prefeitos e a candidatura seguia navegando em águas tranquilas.

É certo que o desempenho do concorrente direto, Marcelo Freixo (PSB), tem sido surpreendente, já que em muitas pesquisas mantém o empate técnico com o líder de intenção de votos. Mas a equipe do atual governador estava convicta de que até o momento da eleição a liderança seria ampliada.

Foi quando uma maré de escândalos começou a quebrar sobre a cabeça de Castro. Começou com uma onda gigante: o caso da Fundação Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio), entidade que paga salário a 27 mil apadrinhados e aliados políticos do atual governador, sem que seus nomes sejam sequer publicados em Diário Oficial. Muitos atuam na prática como cabos eleitorais de políticos.

Descobriu-se ali uma mistura de duas pragas: orçamento secreto com rachadinha.

Castro ainda está devendo explicações sobre essa maracutaia, revelada pelos jornalistas Ruben Berta e Igor Mello, do UOL. Nos momentos em que tratou do assunto, o governador deu declarações disparatadas. Chegou a dizer que os cargos não são secretos, já que mensalmente esses milhares de desconhecidos vão à boca do caixa receber salários.

Como se sabe, o único lugar infalível para se encontrar funcionários-fantasmas é a boca do caixa, no dia do pagamento.

Na sabatina do jornal O Globo, o governador continuou sem explicar nada e ainda se colocou no papel de perseguido, reclamando do espaço dedicado ao tema. Na verdade, enquanto não houver explicações suficientes e surgirem novos desdobramentos, é normal que Castro seja cobrado pelo descalabro no Ceperj.

Em novo escândalo, no fim de agosto, o Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público do Rio, revelou que uma das mais poderosas milícias cariocas usa o banco de dados do governo estadual para levantar informações de desafetos e planejar homicídios, além de extorquir dinheiro de comerciantes e moradores.

Mais recentemente, houve a prisão de Allan Turnowski, ex-chefe de Polícia Civil do governo Castro e candidato a deputado federal de sua base de apoio. O policial foi preso pelo Gaeco, do Ministério Público, sob acusação de cumplicidade com uma das facções do jogo do bicho que travam guerra sangrenta na zona Oeste da cidade. Entre as barbaridades descobertas na investigação, o MP achou um plano de Turnowsky para forjar um flagrante contra Eduardo Paes, para prejudicá-lo na campanha à Prefeitura, em 2020.

Esse é o homem de confiança de Castro na segurança pública, o mesmo que era a autoridade máxima quando policiais fizeram a operação que resultou na matança de 28 pessoas na favela do Jacarezinho.

Hoje, mais um escândalo entrou para a lista de Cláudio Castro.

Na verdade, são antigas denúncias, agora detalhadas pelo delator Marcus Vinícius Azevedo da Silva, em depoimento recente a que tiveram acesso os repórteres Ruben Berta e Lola Ferreira. A reportagem foi publicada com exclusividade no UOL.

Marcus Vinícius, empresário e ex-assessor de Castro, dá detalhes sobre supostos recebimentos de propina pelo candidato, na época em que ele era vereador na capital fluminense e também quando ainda estava no posto de vice-governador - teria então carregado dinheiro sujo em uma mochila. Fala também de envio de grana direto para os Estados Unidos, onde Castro foi passear com a família.

Do ponto de vista eleitoral, essa maré de escândalos tem tudo para tirar a tranquilidade de Cláudio Castro.

Para quem é candidato a ocupar o lugar em que já estiveram Wilson Witzel, Pezão, Sergio Cabral, Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho e Moreira Franco, que tiveram problemas com a Justiça por conta de corrupção ou foram presos (só Witzel não foi), é bom que Castro explique direitinho por qual motivo o eleitor fluminense deve acreditar que ele é diferente dos antecessores. Apesar de, nesse momento, se parecer muito com eles.

Essa deve ser a tarefa principal da campanha a partir de agora.

Antes que a maré desfavorável transforme definitivamente o mar tranquilo do candidato do PL em tsunami.